
Tem dias que são só arrependimentos. As lembranças estranhas e mal resolvidas sambam de deboche na sua cara e você é obrigado a encará-las. Tem dias que não encontro muitos argumentos de defesa. Abaixo a cabeça ou deito em posição fetal e espero passar. Seja lá o que é tudo isso que tem que passar. Tem dias que não passa! O desânimo chega, se acomoda e fica. A tristeza se torna a companhia do dia (às vezes, da semana). Não faço quase nada. Às vezes, mal levanto. Minha mãe bate na porta do quarto algumas vezes, na tentativa de me vê levantar para ao menos comer. Algumas vezes levanto para um café, forte e bem amargo, contudo, sigo sem fome. Em dias assim, muitas coisas complicadas contam histórias na minha cabeça. Muitas delas me fazem chorar, outras me silenciam completamente e algumas parecem consumir todo o ar dos meus pulmões (por vezes, penso que posso morrer sufocada). São só dias cinzas. Eu sei, eu sempre sei, mas nunca os supero e é isto que cansa. Já passeis tantos dias assim, que é frustrante perceber que ainda volto à eles. Percebi que a gente cansa até da tristeza repetida. Sempre a mesma ladainha enjoa, fadiga e eu me sinto completamente exausta. Com a sensação que nadei oceanos e morri na praia. O foda é que é na mesma praia de partida. Sinto como se não importasse os meios, os esforços, os tempos… eu me lanço no mar para atravessar, chego quase lá do outro lado e este mesmo mar, me devolve, me cospe, me rejeita de volta. É isso que mata, estar de volta. Perceber que não fui e/ou fiz o suficiente. Quase sempre eu só não sei lidar com essa verdade, com o estar de volta… Sempre que chego, quero desesperadamente partir. Sempre que parto, não consigo fazer da certo para ficar. Penso, que um dia essas viagens vão acabar me matando de vez ou eu vou descobrir, que no fundo eu sou mar e não precisarei mais voltar ou chegar lá.
Por: Francielle Santos
(Foto: Reprodução / Pinterest)