precisava partir

Sentia outra vez aquela sensação fria, desconcertada de quem estava (ou sentia estar) no lugar errado. Olhava ao redor e não conseguia se encontrar de fato. Tudo lhe era estranho. Nada lhe encaixava, lhe bastava, lhe fazia sentir-se segura.

O que os franceses sabem bem como descrever, a tal da sensação “dépaysement“, alguém expatriado, desconectado das suas raízes, a ponto de perder-se das suas naturalidades. Como a sua cidade natal onde crescera e passara quase todos os seus anos, era lhe agora tão incomum? Sentia-se como um alienígena. Alguém procurando desesperadamente um lar, onde agora só percebia como uma casa.

O que poderia ser lhe o lugar certo? Onde estaria? Como estaria? O que faria? Perguntas que a torturavam diariamente. Não podia agora se dar o luxo de mais uma partida (por mais, que fosse tudo o que sua alma queria… Deus como queria sair pela porta, pela janela…). Não podia agora dar-se a mais uma tentativa de encontrar um lar para si (ainda que sentisse que estivesse definhando a cada dia, tentando fazer de conta que estava bem). Muitas vezes, era mais cômodo fingir que estava bem, do que tentar explicar essa sensação de que não cabia ali, assim como sempre fora ou como acreditava que era. Uma ideia bizarra demais, para que a entendessem. Afinal, o que lhe faltava? Não faltava lhe nada e mesmo assim, faltava lhe tudo. Como poderia explicar ou justificar? Loucura? Ingratidão? Desapego? Teimosia? O que quer que fosse, penalizava lhe.

Perdia-se no que conhecia e precisava se perder no desconhecido para se encontrar. Precisava disso, precisava se perder por aí. Precisava encontrar o seu lar ou talvez, só voar… Talvez a sua alma fosse como de um passarinho sem ninho. Tinha que aceitar. Tinham que deixá-la partir.

Sobreviveria as partidas e não aos retornos.
Era a droga dos retornos que maltratavam, bem mais do que os “adeus”. Antes partir, do que ficar. Antes se perder, do que tentar se encaixar em uma forma que já não lhe pertence mais. Antes ser nativo em terra estrangeira, do que forasteiro em terra explorada.

Precisava partir. Precisava encontrar o seu lar. Sabia que não era aqui. Que não estava aqui. Sabia que precisava aceitar os fatos, arrumar as malas, sair pela porta da sala e encontrar um jeito de não ter que voltar (a não ser que voltar fosse passageiro). Partiria um tanto de corações. Julgar-lhe-iam de novo e de novo. Mas seria feliz, seria feliz, seria feliz, um dia… em casa, em seu lar… um dia, seria feliz, seria outra vez feliz.

Por: Francielle Santos

(Foto: Reprodução / Pinterest)

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