o som das chaves na fechadura da porta

Era um dia como qualquer outro, dentro daquela rotina matinal para tentar dizer que estava diferente, mas ela estava diferente. Tinha algo inquieto dentro de si. “Saudade” pensou ser, e talvez fosse.

Levantou-se mais cedo, tomou um banho daqueles demorado, lavou os cabelos na água fria, vestiu um vestido longo de cetim, preparou um café e esperou… esperou aquela sensação estranha passar.

Sentia um vazio grande no peito. Um vazio naquela casa. Não havia mais nada o que esperar, mas continuava esperando. Talvez uma ligação. Talvez uma mensagem no Whatsapp ou um direct no Instagram. Talvez um e-mail. Talvez uma encomenda ou um simples cartão postal (amava cartões postais) entregue pelo sedex. Talvez o barulho das chaves na fechadura da porta da sala.

Na janela esperando o tempo passar ou ele voltar. Havia esperado tantas coisas antes, até mesmo o fim, sabia bem disso. O fim é inevitável de um jeito ou de outro, pelo tempo que o evitamos. Havia palavras ainda a serem ditas. Coisas para fazer (sempre haveria mais coisas para fazer). Havia fotos para tirar e o dobro para não tirar (só guardar na memória mesmo). Havia um monte de manhãs para o encontrar na cama, no boxe embaçado do banheiro, na cozinha preparando o café forte, na lavanderia tentando encontrar uma camisa azul claro (ele ficava tão lindo com ela), na sala vidrado no futebol de domingo, na varanda esperando o abraço dela… Havia histórias para contar, para partilhar, para viver. Havia um monte de dias ainda para acontecer, enquanto ela vivesse teria dias para viver com ele.

Era esse monte de coisa que tornava grande de mais esse vazio. Estava tudo ali, cada coisa ainda no seu lugar, intactas, imoveis, mas lhe faltava ele. Sempre lhe faltaria ele. O cheiro, o riso, a alegria, o gosto, a bagunça, o calor, a presença dele, a esperança dele.

Encontraria na internet aqueles tantos de artigos sobre seguir em frente, superar, da a volta por cima e bla bla bla. Iria fazer uma maratona de videos no Youtube, Lives no Instagram com coachs, influenciadores e todos que falassem sobre ser uma mulher independente, forte, empoderada. Compraria livros sobre isso também da sessão de auto ajuda das livrarias. Sairia todas as sextas e sábados, conheceria gente nova, dançaria, se permitiria de novo Falaria horas a fio no divã, pagaria quantas sessões fosse preciso para lidar com isso. Daria certo!

Daria certo… quando tudo isso passar, daria certo!

O problema é que não era bem isso que ela queria. Não queria esquecer. Não queria deixar pra lá. Não queria não esperar. Por isso, continuava esperando, todos as manhãs ele voltar (de algum jeito estranho ou comum) tanto faz, mas ela esperaria, ela seria a espera, mas não seria a mulher que desistiria de um amor assim. Não era só sobre ele, tinha muito mais a dizer sobre ela, sobre quem ela queria ser, como ela queria viver e com quem ela queria partilhar a sua vida. Esperaria mais um dia…

Levantaria cedo, tomaria um banho daqueles demorado, lavaria o cabelo com água fria, colocaria o vestido de cetim favorito dele, prepararia o cafe naquela cafeteira moka (tentaria preparar o café do jeito dele), esperaria … esperaria aquela sensação estranha passar, o som das chaves na fechadura da porta, esperaria o seu amor voltar.

Por: Francielle Santos

(Foto: Reprodução / Pinterest)

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