
“Eles eram jovens demais” era o que todos diziam quando os viam escondidos na escadaria da rua da casa dela.
Desde que flertaram a primeira vez, nunca mais se olharam de forma diferente. Desde que se beijaram pela primeira vez (aquele beijo roubado dele), nunca mais puderam evitar os beijos, os abraços, as horas conversando por telefone nas madrugadas.
Todos os dias ela saia mais cedo para encontrar com ele escondido. Seus pais não o aceitaria, ela sabia – a religião era clara demais. Os pais dele também não – não abriria mão do filho para qualquer que fosse a outra religião. Em pleno século XX e aquele dilema Romeu e Julieta ainda era tão real, se outrora falavam sobre diferentes monarquias, hoje falaríamos de classe social ou religião. O mundo parecia mudar, mas continuava o mesmo. Pessoas diferentes se apaixonariam e enfrentariam tais questões.
E eles estavam apaixonados… apaixonados pela vida, pelas diferenças, pela realidade que eles construiriam a cada encontro escondido naquela escadaria. Ah se aquela escada contasse aquele romance… “todos os dias ela correndo ao encontro dele, que a esperava ansioso às seis da manhã sentado em sua moto, fazia sol ou fazia chuva ele sempre estava lá. Passavam os minutos contados que podiam juntos, procuravam não se preocupar com os riscos. Planejavam o confronto ou a fuga. Sonhavam com os filhos que teriam com os olhos dela e o tom de pele dele. Seriam lindos, tinham certeza. Viajariam o mundo. Envelheceriam juntos.”
Tão jovens. Tão sonhadores. Tão entregues.
Ela faria o que fosse preciso para mantê-lo em sua vida. Ele planejaria todos os planos de A a Z para não perdê-la. Mudariam de cidade, de estado se fosse preciso, mas seriam um do outro. Ela deixaria tais costumes, ele deixaria os dele ou encontrariam um caminho do meio, um jeito de ser que coubesse os dois. Não haveria de ser diferente, eles sabiam. Ela o amava o bastante para sacrificar o que fosse preciso. Ele a amava demais para não deixar seus caprichos para trás para segui-lá. Eles não sabiam o que era o amor de uma vida inteira ainda, porém entendiam que tinham o amor para começar a vida, para lutar pela vida inteira que podiam ter juntos. O que seriam todas as razões contra um amor invencível?
Tão jovens. Tão convictos. Tão um do outro.
Depois de tudo, eles viveram o amor de uma vida inteira.
Por: Francielle Santos
(Foto: Reprodução / Pinterest)