
Ela pararia o tempo e daria um jeito naquela confusão, ah ela daria-lhe um jeito. Ela só não podia não fazer nada. Era isso que mais a maltratava nos últimos dias, não fazer nada por tudo aquilo. Era a sensação de inutilidade, de ser impressionantemente incompetente que batia sem dó, que atormentava as noites de sono, que lançava-lhe ao rosto que tinha falhado. Não importava as coisas que tinha acertado na vida, as importantes decisões, as viradas corajosas, às vezes que recuou por sabedoria, nem importava mais os importantes encontros, os melhores abraços, o top dez das melhores noites, pois ela tinha falhado, ela tinha falhado.
Maldita era aquela sensação de ser incapaz de mudar o que quer que fosse. Ela tinha que dar um jeito naquilo, antes que aquilo desse um jeito final nela e disso ela sabia. Não podia brincar com sorte. Tão pouco esperar por um milagre. Ela precisava dá um jeito. Não importava muito o jeito que ia dá, mas tinha que dá. Então pararia o tempo, assim mesmo, absurdamente, inconsequentemente e egoisticamente. Haveria alguém no mundo, em plutão, no universo que a compreendesse. Compreendesse que ela não tinha mais tempo para esperar o tempo passar para concertar tudo aquilo.
Talvez, só talvez aquela ideia a condenaria eternamente ou a tornaria eterna para o tal de para sempre. Não tinha muito como saber, mas sabia que tinha que tentar. Já não temia mais o que perder afinal, já não lhe sobrara nada, só aquela bagunça que ela mandaria para o espaço ou para puta que pariu ou vice versa, isso também não importava.
Parar o tempo lhe custaria a vida ou lhe daria a chance de ter aquela vida. Tinha que correr os riscos de perder a vida, para tê-la e aquilo tudo era uma puta ironia. Às vezes, a vida era somente isso, uma quantidade grande de merdas irônicas. Ela tinha cansado daquilo. Ou seria outra merda de vida também, e isto era uma das coisas que não seria, pelos menos não mais. Não seria mais uma merda de vida, entre tantas. Estava decidida. Convicta. Louca. Tanto faz, mas faria. Ela pararia o tempo, para ter mais tempo de vida, para ter uma vida.
Por: Francielle Santos
(Foto: Reprodução / Filme Alice Através do Espelho)