
Por muito tempo você foi só palavras bem organizadas. Os discursos prontos de quem sabia o que queria. Sabia o que teria. E quer saber, eu admiro a sua persuasão. Esse teu jeito seguro de provar que me tinhas nas mãos. Não importava o meu dia, o meu estado, nem o tempo perdido entre a última vez e o presente. Você sempre soube, que bastava um “quero te ver”, que eu estaria pronta para te vê também, ainda que eu não estivesse realmente pronta.
Você não tem ideias de quantas vezes eu liguei para o salão de ultima hora, implorei por um encaixe inesperada e sempre dizia: “é uma emergência, dá um jeito pra mim” pois é, eu sempre encontrava um jeito para estar com você. Parava tudo que estava fazendo, corria para o salão, fazia o cabelo, unha, sobrancelha, depilação, colocava a melhor lingerie, revirava o guarda roupa para vestir uma roupa que te agradasse, o teu perfume favorito, pouca maquiagem, pensava em todas as últimas críticas (porque nunca estava bom o bastante, você sempre tinha uma coisa para ajeitar em mim), eu tentava não cometer os mesmos desafetos e mal feitos.
Às vezes, você não demorava muito para chegar e quando chegavas, eu imaginava que um dia chegarias para entrar, ficar, conversar, assistir alguma coisa estupida da TV, partilhar um vinho e dormir abraçados no sofá. E quantas vezes, você me fez esperar horas sentada naquele mesmo sofá.. Sem falar das vezes que não veio simplesmente, porque ficou preso no trânsito, um amigo pediu para fazer alguma coisa ou quando chegou em casa se viu cansado demais e mudou de ideia. [filho de uma puta] eu pensava em todas essas vezes, batia a porta do meu quarto, olhava para o espelho e repetia umas cem vezes: “ele nunca mais vai por as mãos em mim”, mas aí você encontrava um jeito de me convencer que eu tinha exagerado, que não estava sendo compreensiva, que no fim, essas surpresas desagradáveis, eram até boas para aumentar a saudade [sempre a filha da puta da saudade].
Você sabia que mesmo brava eu tinha saudade. Você sabia que mesmo com raiva e com razões para te esquecer eu te amava demais, para te dizer nunca mais. Você sabia que minha entrega não era só por prazer. Sabia como usar todas essas coisas ao seu favor e quer saber, eu admiro a sua audácia e inteligência. Porque há de ser muito esperto e cinicamente cruel para usar tais sentimentos para atingir a vulnerabilidade do outro.
Quantas vezes, você parou o carro no meu portão e eu pensei: “ah, hoje você me paga! Você vai ter o meu melhor e nunca mais vai me ver de novo”. E de fato todas as próximas vezes, era melhor vez das nossas vidas. Quantas vezes entrei naquele quarto pela força do ódio, mas ai você vinha com o teu jeito canalha e lírico, sabia o que dizer, o que fazer, onde tocar e lá estava eu derretida nos teus braços. Te amando de novo e você me prometendo o para sempre mais uma vez.
Mas como dizem por aí: ” o pra sempre, sempre acaba”…. e esse pra sempre acabou. Levei muito tempo para entender e aceitar os teus interesses . Vezes demais de entrega para uma longa espera solitária. Muitos dias sozinha na cama para reconhecer que eu mereço mais que os seus rompantes de saudade. E quer saber, vá para o inferno com o seu amor temporário. Não é que eu não te ame mais. Eu só não aceito mais os teus restos. Não tem amor que resista uma vida inteira de sobras. Não tem amor que aguente para a vida, um amor por algumas horas.
Por: Francielle Santos
(Foto: Reprodução /Pinterest)