
Nunca houve certezas, exceto a convicção de que um dia seria l i v r e.
Liberdade: para ela as possibilidades de ser quem quer que ousasse sonhar ser e seria, mais cedo ou mais tarde, ela seria.
Por vezes, a vida havia se provado intolerante aos seus erros. Como saber que haveria de errar tanto? Nunca houve manual e nem há. Contudo, se houvesse manual para a vida, as pessoas o leriam? Tinha lá as suas ressalvas.
Tinha ido. Tinha retornado. Tinha partido o coração. Tinha dado a cara à bater e algumas vezes, retirou a face, porque não podia suportar o tamanho do estrago. Nem tudo se está disposto a suportar, ela sabia. Há momentos, que a gente desisti, se esconde, escapa pelo primeiro buraco que vê. Covardia ou ousadia demais. Tudo é um tanto quanto relativo. Em uma dessas, escolhe-se não suportar o confronto da estação e por fim, perde alguma coisa ou ganha outra, tudo depende da perspectiva de quem conta e da interpretação de quem escuta a história – coisas bem custosas de controlar.
Perdeu muito sim. Ganhou muito também. Levou dias e dias para compreender que é preciso sangrar para entender a plenitude da cura. É preciso quebrar, para dar valor ao que é inteiro. Ironia miserável da vida; que às vezes, fazia gargalhar de doer a barriga e muitas vezes chorar noites de insônia longas demais. Tudo sempre dependia. Tudo depende, vê se entende isso logo. Ao longo da sede pela liberdade, tinha concluído isso também, antes tarde, do que nunca.
Às vezes, ser livre era não ser nada para si mesma e tudo para os outro. Outras vezes, ser livre era ser tudo para si mesma e nada para os outros. Com doses duplas de azar e sem limão com sal (se é que me entende), para lidar com as consequências de ser, às vezes nada, outras vezes tudo. Redundante para um entorpecente, mas a liberdade tinha disso, as redundâncias, coerências, assim como os seus desatinos e fragmentações é o que a torna excitante.
Deveria ser liberdade o ato de ser livre em si mesmo antes de qualquer orientação e não esse monte de blá-blá-blá motivacional que se vê por aí (com todo respeito!). Liberdade deveria ser a emancipação do que esperam da gente dentro da gente, antes de qualquer coisa. Complicado é escalar essa montagem dentro de nós mesmos. Desafiador mesmo é ter coragem para rasgar o peito, arrancar o curativo, encarar os estragos sem ter que ter permissão poética para isso. E precisa mesmo de permissão? Se sim, espero profundamente que isso seja um delírio.
Liberdade deveria ser o ato de aceitar que não temos que ter permissão para sentir o que queima dentro da gente.
Por: Francielle Santos
(Foto: Reprodução / Pinterest)