
Você me decepcionou e não decepcionou pouco. Eu sabia que poderia ser óbvio, mas torci para que do óbvio fosse provado ao contrário. Queria ter dito todas as palavras, que você silenciou com aquele teu olhar tão expressivo e agora, mais que nunca, eu sei que o que eu achei ter compreendido, fora um completo engano.
Uma parte de mim já estava convencido, mas a outra, aquela parte que tinha esperanças, torceu para você ser um acerto, torceu para você voltar e dizer que estava só testando a minha capacidade de suportar a dor. Já sinto tua falta e isso é tudo o que posso dizer agora, o resto ainda dói.
Dói o fato de eu ter me equivocado ao seu respeito. Dói eu ter sido completamente ingenuo as tuas artimanhas. Dói eu não ter me dado conta do que estava debaixo do meu nariz. Dói perceber que se você me decepcionou, é porque eu te decepcionei de alguma forma e dói não ter reparado os meus erros a tempo. Dói reconhecer que essa dor também é responsabilidade minha. Que idiota faz doer em si mesmo?
Li recentemente em algum ludar do qual não lembro, que o amor não acaba da noite para o dia. Ele vai acabando um pouco todo dia, quando há muitas faltas, muitos erros e poucas tentativas de concertos, pouca humildade de se desculpar e eu sei, que vezes demais, na qual nem posso contabilizar, eu deixei o meu orgulho gritar muito mais alto do que toda a vontade que eu tinha de te ter nos meus braços.
Decepção gera decepção. Simples assim. Decepção apodrece as outras coisas que são boas. Só não enxerga, quem não quer ver. Eu percebia. Eu sabia que precisava fazer alguma coisa a respeito. Eu só adiei demais. Sempre deixei esses reparos para depois, não é? Quantas vezes você me cobrou para concertar aquela janela que não estava fechando tão bem, para trocar a lâmpada da varanda, para dar uma olhadinha naquela droga de radio antigo que não estava sintonizando… quantas vezes, você só queria conversar um pouco sobre tudo, um pouco sobre os nada’s… e eu sempre dizia: depois. Depois eu vejo, depois eu faço, depois conversamos… e quando o depois chegou, você já tinha me deixado.
Por fim, percebo que estou mesmo é decepcionado comigo. É quando a sua própria consciência te prova suas responsabilidades sobre os resultados das coisas que acontecem na sua vida. No começo eu só queria te culpar. Culpar por ter me deixado. Culpar por sequer ter permitido que eu falasse alguma coisa. Culpar por não ter voltado horas depois. Mas aí, percebo que se você me decepcionou, é culpa minha. É um martírio eu só me dar conta disso agora.
Dizer que lamento, não te trará de volta, mas saiba que eu lamento. Lamento ter te decepcionado ao ponto que fez você me decepcionar assim.
Por: Francielle Santos
(Foto: Reprodução / PraxisVita)