chorar, chorona, chorava

Há uns anos atrás, descobri que eu fui uma bebê muito chorona.

Foi em um daqueles almoços de domingo, com extravagância de comida gostosa (minha mãe sempre gosta de exagerar quando o assunto é cozinhar para pessoas); em volta da mesa, com os meus pais, com o meu irmão mais novo, um dos meus tios e a esposa e os filhos deles, uma das minhas tias que é como mãe e avó para mim. Todos ali falando sobre os dias, a vida e a família. Aquelas conversas clichês entre irmãos, cunhadas, primos, os caçulas correndo no corredor…

E como em todas as famílias, tem sempre aquele momento, depois da sobremesa e com o café na mesa, que os pais começam a falar sobre os filhos como se eles não estivessem presentes e naquele domingo em questão, não sei bem como começou o assunto, mas o meu tio virou-se para mim, chamando a minha atenção e disse: “Ah, realmente, a Fran quando era um bebê chorava demais!“; minha mãe não perdeu a oportunidade e também disse: “ah, ela chorava o dia inteiro” e meu pai completou: ” chorava tanto, que ninguém pegava no colo, porque ela sempre estranhava todo mundo”

Nessas horas nós filhos sempre ficamos muito irritados ou envergonhados, porém, eu já com mais de 20 anos de idade, não podia me dar o luxo de ficar emburrada ou qualquer coisa do tipo, afinal eram só histórias, então ri junto, participei das piadas e seguimos para outro assunto (efeitos da maturidade).

Hoje, me lembrei dessa tarde de domingo, dessa conversa levemente constrangedora e natural de um tempo que eu não tinha o menor receio de chorar. Quando somos crianças, somos impressionantemente livres para ser, gritar, falar, chorar, rir, correr, pular, fazer o que dê na telha, não é ? Não sei dizer quando exatamente deixei de ser aquela garotinha chorona, contudo, eu sei que deixei de ser.

Hoje, sinto falta das lágrimas, como se elas não existissem mais dentro do meu peito, como se elas não estivessem há menos de um milimetro para escaparem pelos olhos. Hoje, até quero que elas jorrem os rios, os oceanos que forem necessários para aliviar a angustia, a incerteza, o medo, a nostalgia, mas algo as impede. Por vezes, até duvido se um dia eu soube como chorar? Se chorei impulsividades? Se chorei, porque era o único jeito que eu sabia como expressar o que quer que fosse que estava dentro de mim? Será que era choro? Será que eram lágrimas? Será que se aprende a chorar e também desaprende-se como chorar? Não sei… não sei!

Percebo que com o tempo se tornou uma habilidade. Elas vêm. Eu sinto o nó na garganta, o aperto no peito, uma pressão interna de quem parece que vai explodir (e às vezes, quase explodo), no entanto, eu engulo. Engulo lágrima por lágrima. Os olhos, algumas vezes parecem querer me entregar, mas mesmo assim, existe uma força (uma impotência) que as fazem recuar, uma por uma para dentro.

Penso que um dia hei de acabar asfixiada por tantas lágrimas que faço retroceder, mesmo que sem querer. Muitas vezes, eu só gostaria de ter aquela liberdade de chorar como quando eu era criança. Fosse pelo o que fosse, chorar sempre é, de algum modo, um grande alívio.

Por: Francielle Santos

(Foto: Reprodução / Pinterest)

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