em plena queda livre, ela finalmente era livre

Sentia-se assim: presa, amarrada, impossibilitada de viver todas as possibilidades da vida como ela é. Por vezes, quando acorda, abre os olhos e encara as paredes do seu velho quarto, não entende como pode ainda estar ali, mesmo sabendo as razões e circunstâncias que a obrigam a ficar.

Às vezes, parece que ainda está solidificada a adolescente de 15 anos, que se estranhava naquela realidade, que queria voar para o mundo, que contava os dias pelo dia que colocaria as asas para fora do ninho. Queria tudo. Queria ser tudo o que imaginava, mas a idade e outros tanto por quês a impediam de ter a liberdade que sonhava em ter, porém ela pensava: “um dia serei de maior e vou partir“.

Esse dia finalmente havia chegado, porém ela não estava pronta. As tentativas de estar pronta não davam certo, também não bastavam. Foram diferentes tentativas. Saltou como quem salta do avião de paraquedas, mas sem paraquedas em todas às vezes. Vezes demais que pesam-lhe o peito só de lembrar . O problema nunca foram os saltos em si. Cada vez que estava na beira da porta do avião, sentia-se viva como se nunca antes houvesse estado. Tinha todos os seus absurdos ali, a flor da pele e a única certeza que tinha era que se não pulasse, morreria eletrocutada por eles. Então saltava. Saltava do jeito que dava. Como achava que tinha que ser. O peito ardia. As lágrimas escapavam-lhe pelos olhos. Sentia a decepção por decepcionar tanta gente (mesmo que essa não fosse sua real intenção). Sentia as pernas bambas, todas as incertezas, pulsando nas veias. Em plena queda livre, ela finalmente era livre.

O problema não era ter coragem para saltar, apesar de todos os nãos, porque coragem ela tinha em cada partícula do seu corpo. O problema era a aterrissagem após queda livre.

Oras, você pode imaginar, alguém que em sã consciência salta do avião sem paraquedas e sobrevive? Não sobrevive!

Ela não tinha sobrevivido aos seus saltos. Era feliz. Feliz em uma metida imensurável neles, mas quando chegava ao chão, não sobrava nada. Como um taça de cristal que quando cai se torna pequenos fragmentos incontáveis. Assim, estava ela. Juntando outras vez os seus pedaços no chão. Reconstruindo uma versão nova, para uma vida nova. Apesar da dor, ainda tinha uma esperança indestrutível pelo dia do voo certeiro, do pouso sereno em terra firme.

Por Francielle Santos

(Foto: Reprodução / Wattpad)

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