você ficou gravado em mim

Ainda te percebo nas marcas deixadas na minha pele.

Naquela noite comemos pasta italiana, bebemos vinho seco chileno. Sob a meia luz entre a copa e sala de jantar, pude sentir o meu vestido longo subir por suas mãos. Colocada em cima daquela bancada, nos amamos perdidamente. Nossos cheiros foram um. Nossas respirações cantavam a trilha sonora daqueles instantes tão nossos. Sob a mesa fizemos amor. No instinto, por entrega, com paixão. E não há nada que tire você de mim assim, que ofusque o colorido lindo que os teus olhos de girassóis trouxeram à minha vida.

Você ficou gravado em mim. Seus dedos desenharam na minha pele como quem desenha com os dedos na areia. Teu jeito tão efêmero e ousado como o mar de Copacabana, por vezes, foi como a força das ondas que arrastam para dentro e você se entrega ao azul do oceano e eu me entreguei a força dos teus braços.

Ainda sinto nos lábios o gosto daquele teu beijo na porta do teu apartamento, na chegada da tua viajem à França. Quando a porta entre nós deixou de estar, você não exitou e me devorou. Bastou a tua ausência por algumas semanas do outro lado do pacífico, para eu perceber que eu já não te queria mais só por prazer. Relutante, neguei e negaria de novo, só para ser consumida por você como naquela noite, outra vez, sem nenhum tipo de pudor, que por 60 segundos pensei que era apenas abstinência acumulada. Que tola que fui, a tal abstinência podia ser saudade e foi, não foi?

Saudade! Saudade dos rompantes de saudade no meio da semana. Saudade da sua inquietude no sofá. Saudade do calor entre nós. Do encaixe “abbastanza”. Saudade dos amanheceres, do café feito na Moka, com biscoito Abbracci e dos beijos com gosto de sorvete de doce de leite. Saudade do nosso silêncio matinal. Saudade dos teus olhos de girassol iluminados pelos raios de Sol às 8 da manhã. Saudade até da tua chatice, do seu cheiro de maresia carioca, das suas camisas brancas…

Por Francielle Santos

(Foto: Reprodução / Magazine Feed)