
Hoje, lembrei das tuas queixas, das tuas insatisfações, dos reparos que sempre pontuava em mim. Das infinitas vezes que se queixou por eu estar te ligando de novo (de novo e de novo no mesmo dia). Das irritações quando eu pedia para avisar quando chegasse em casa (era tola, exagerada sim, mas era preocupação, sabia?) Lembro das vezes que eu faltava morrer do outro lado da tela fria sem respostas tuas. Às vezes, pensava que você estava só colocando um freio no meu exagero todo (me punindo ou ensinando-me a mudar), mas na maior parte do tempo, eu imaginava infinitas possibilidades bem cruéis para um coração apaixonado.
E quer saber, hoje quando olho para trás e analiso essas coisas, sem tanta emoção, sentimento e preocupação, eu chego a concordar contigo. Foram muitos exageros. Ainda que houvesse boas intenções, tudo o que é demais pesa mais do que deveria na balança. E eu demorei para te dá ouvidos, entender que você queria menos de todas estas coisas.
Foi aos poucos, por exaustão, por querer te agradar mais, por raiva também e para para não te perder, que eu fui diminuindo os meus excessos.
Quando dei por mim, não tinha mais vontade de ligar, mesmo quando tudo o que eu queria era ouvir a sua voz. Fui diminuindo as mensagens, as curtidas, as perguntas e comecei a pedir à Deus para te proteger ainda mais, quando a preocupação apertava o peito e eu não fazia ideia de onde você estava. Parei de fazer tanta questão de saber dos teus horários, dos teus dias, das tuas chegadas em casa, mesmo molhando o meu travesseiro com as minhas lágrimas de saudade, um pouco a cada dia e eu fui parando de te cobrar presença.
Ocupei o tempo que era dedicado à ti para outras coisas, para cuidar do vazio dos dias sem você. Encontrei outros prazeres, outras histórias, outras dúvidas, outras curiosidades. Continuava te amando, sentindo a tua falta principalmente nas noites de sexta, sábados, domingos que eu sabia que você estava por aí com os amigos. Mas foi aí que também percebi que não estava na tua ordem de prioridades. Percebi que nós (ainda que quando nós, eramos perfeito) sempre estava entre um jogo ou outro, um cervejada e um pagode ou outro, no tempo que sobrava. E Deus sabe, que o problema, nunca foi os jogos, as cervejadas, as rodas de samba, os amigos… o problema era eu ser a sobra entre tudo isso.
Doeu e como doeu enxergar verdades tão duras sobre nós. Entretanto, eu não podia mais ignora-las e quando dei por mim, eu é quem já não fazia mais questão da tua existência na minha vida. E quando tudo isso se tornou uma verdade aqui, foi aí, só aí, neste exato ponto da história que você voltou. Tocou a minha campainha a ponto de incomodar os vizinhos. Ficou parado dentro do carro na frente da minha casa, me esperando chegar. Ligou, vezes de mais para eu contar. Se tornou a notificação mais insistente na tela do meu celular. Apareceu em curtidas nas minhas fotos antigas. Quis conversar sobre saudades, amor, carência e amizade. Desejou tornar a ser presença. Voltou até a me chamar de exagerada, “exagerada até pra fazer falta“…
Eu já não tenho muito para dizer. As palavras já não fazem questão de te explicar. Eu te amei e te esperei exageradamente por tanto tempo, que parece ironia do acaso só agora você notar. O amor não acaba da noite para o dia, entende? Assim como cresce e se fortifica, de presença em presença, de cuidado em cuidado, de atenção em atenção, ele enfraquece e morre, de descaso em descaso, de exagero em exagero, de falta em falta. Você esteve tão ocupado com todas as outras coisas na sua vida, que nem reparou que estava deixando de existir na minha vida, e quer saber, de cara, nem eu me dei conta também. Não mudei, só andei ocupada, ocupando a sua ausência na minha vida e você acabou me escapando também.
Por Francielle Santos
(Foto: Reprodução / Magazine Feed)
[texto em resposta a música 50 Vezes do Sorriso Maroto]