trivialidades dos fins

Ainda respondo que foi uma trivialidade. Todas às vezes que alguém me pergunta como cheguei aqui.

Como poderia explicar de outra maneira? Quase sempre eu sequer conseguia esconder a vontade de chorar e o sorriso, um tanto quanto constrangido, por já saber o olhar questionador e as perguntas incrédulas do porquê estar assim, porquê tanta tristeza, como tudo isso valia a pena.

Eu levei um tempão para saber ouvir à todas estas perguntas e não querer gritar, mandando-os calar a boca ou a merda e vice e versa. Eu levei algumas estações para aprender a caminhar por entre esses olhares, sem desejar, desesperadamente, uma capa que me fizesse invisível e eu não tivesse que ser vista, parada, questionada e forçada a encontrar uma resposta rápida.

Eu não queria (nunca quis, para ser mais franca) ser vista sangrando. Eu não queria ter que explicar os meus motivos, porque eles eram meus. E só quem sente, vive e sonha é quem sabe realmente os motivos e o quanto eles algumas vezes pesam e doem. Eu não queria ter que ser sensata para agradar, seja lá quem fosse o próximo da fila. Eu não queria ter que justificar meus rompantes, porquê eu sequer tinha as palavras certas para dizer-lhes.

Estava em um ponto intelectualmente obesa de um monte de informações, reflexões, conselhos, mantras, técnicas. Porém eu não conseguia nem mesmo dizer, que não dava conta sozinha, como eu poderia fazer uso de tudo aquilo? Eu estava naquele ponto que todo mundo diz: “fica aqui que você está segura” e empurra goela a baixo tais sensatezes. E você não sabe muito o que fazer com aquilo e começa tentar engolir o que quer que seja. Mas não há como digerir, o seu organismo não tem tempo hábil para dissipar tudo aquilo dentro de você de uma vez só.

Eu estava inchando com coisas, que sim, poderiam ser muito úteis se colocadas em ação e eu tivesse energia para isso. Eu estava pesada por dentro. Eu eu estava exausta demais para dar conta de tudo. Por vezes, é exatamente esse o problema: você sabe o que fazer, como fazer, mas está cansada demais para dar conta da tarefa, mesmo que seja uma tarefa, ridiculamente, pequena.

Ninguém, nunca está pronto para lidar com o seu mundo que desmorona de uma vez, para encarar o estrago da noite para o dia. Eu não tinha perdido a consciência e a visão, a ponto de não ver o que estava acontecendo, eu só não tinha forças para digerir tudo aquilo de uma vez e começar a ajeitar a bagunça. Levei dias para conseguir, à começar, sair da cama. Depois, mais um tanto de dias, para conseguir a encarar meu estado no espelho. E enfim, mais um tanto de tempo, para voltar a caminhar, devagar, pelas ruas da vida. Por vezes, você só precisa de tempo, tempo, tempo.

Por: Francielle Santos

(Foto: Reprodução / Na Rota do Bem Estar)

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