
Às vezes, é somente isso que sou, uma criatura toda magoada. E sabe se lá, que tantas mágoas são essas, o por quê e as suas causas. Somente sei que elas ousam residir em mim. Não poucas vezes olho para o espelho e encontro uma eu tão mais velha do que diz o meu registro de nascimento. Um olhar estranho me encara, como se eu nem sequer me reconhecesse e às vezes, de fato, não me reconheço.
Em noites, que julgo longas demais para um coração angustiado, me reviro umas cem vezes e não acho lado bom o bastante para acolher a minha solidão. Sempre ela, irreverente e tão presente nas minhas noites longas. No meio da madrugada, já cansada daquele falatório ensurdecedor das minhas lembranças dolorosas, desisto de tentar calá-las, pego o celular, coloco o fone no ultimo volume e a típica playlist me faz chorar. Conveniente com o contexto e nessa altura, tudo dói. Impressionantemente, sinto dores em lugares que nem sabia que poderiam doer.
Juro, que não entendo como coisas tão distantes ainda podem se fazer sentir tão presentes. Na minha mente, mesmo com os olhos abertos e avermelhados, consigo ver as cenas peculiares dos dias de dor. Em 3D o filme passa, sem comercial, como se eu estivesse na maior e melhor sala de cinema, mas na verdade, estou só encolhida na minha cama, a olhar o teto e as paredes do meu quarto, no escuro, sozinha, em silêncio, apesar do barulho interno.
Às vezes, é somente isso que sou, uma telespectadora da minha tristeza. E sabe isso me deixa com raiva. Porque, cá entre nós, é só olhar a minha volta, que vai perceber que essa tristeza não tem sequer cabimento. E é exatamente isso, essa tristeza não cabe no meu quarto, não cabe na minha cama, não cabe na minha vida, nem cabe mais em mim… e eu transbordo de vez.
Honestamente, raras são as vezes que essa tristeza sequer fez sentido. No fundo no fundo, ela não tem sentido algum. Só incomoda muito. Irrita. Na maioria das vezes me neutraliza e nas manhãs, bom as manhãs são densas e desafiadoras. É como acordar de ressaca sem ter bebido uma gota sequer de álcool. Eu nunca fui fã da ressaca verdadeira, mas nesse caso, simplesmente a prefiro, pelo menos faria mais sentido.
No fim, depois de alguns longos minutos de birra feito uma criança mimada que não quer levantar tão cedo, eu levanto. E claro, me recuso a encarar o velho espelho. Fazê-lo, depois de tudo isso, é pedir demais.
Às vezes, é somente isso que eu sou, uma criança mimada. Dizem, que toda ação consciente ou inconsciente tem um ganho emocional por trás. Deve ser isso, um pouco de ganho emocional, que mesmo não sendo racional, uma ou várias de mim quer um pouco (um pouco de algo que eu não faço ideia ainda do que é) e ai, tudo dói, tudo machuca, tudo é saudade, tudo sufoca, tudo faz falta, tudo é tudo, tudo é nada, tudo é bem foda mesmo (com o perdão da palavra).
Então eu choro. Choro inconsolada. Sinto uma profunda vontade de colo, é como se estivesse órfã. Que os céus me perdoem. Não é ingratidão. Não é indiferença. É só a falta de conexão e nesse caso, estar rodeado de multidões ou sozinha, realmente não faz diferença alguma. Por isso, eu volto para casa, para o meu quarto. Tento encarar o velho espelho.
Por: Francielle Santos
(Foto: Reprodução / VK)
Você não está sozinha neste momento. Entendo, compreendo e atualmente estou vivenciando uma situação parecida. Me dizem que tudo passa com o passar do tempo, só não sabemos quanto tempo dura este tempo.
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acredito que tudo passa também.. a nós cabe a paciência e resiliência nesse processo
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