se tu soubesses

Se tu soubesses o quanto ainda te vivo em mim. O quanto que ainda tem de você no meus pequenos detalhes do dia. Sabe, no fundo eu queria te encontrar para te agradecer por todas essas pequenas mudanças que você trouxe à minha vida. Talvez dirão, que são bobagens e talvez sejam, mas são essas bobagens que me fizeram amadurecer, abrir os olhos para apreciar outras coisas, que eu nem imaginava que podiam ser tão boas.

Pequenos detalhes que você sutilmente foi alterando em meu modo de viver. Coisas que eu nem reparei de imediato. Fui apenas mudando, reformulando os meus conceitos, redesenhando o meu jeito, reaprendendo a viver lado a lado. E quer saber, foi ali, que finalmente fez sentido a tal vida à dois, a felicidade.

Não foi assim, fácil. Você sabe. Eu relutei com algumas coisas. Nem tudo foi de primeira, nem de segunda, para ser mais honesta, porém fomos se ajeitando, se lapidando, se alinhando até a gente se caber. E a gente se cabia e como se cabia! No tamanho do nosso mundo criado só para nós dois, feito cuidadosamente por nós. Nós nos encontrávamos sem ter que nos procurar. Nos compreendíamos minuciosamente com apenas um olhar.

Tudo era tão nosso. Tudo estava sempre tão do nosso modo. A casa tinha o nosso cheiro. Os quadros na cabeceira, tinham aquelas fotos que você sempre insistia para tirar e registrar aqueles dias de conversas e risos frouxos, em algum lugar da nossa cidade gigante. Os enfeites na estante faziam seu papel de nos lembrar das nossas viagens inusitadas. Os bilhetes na geladeira com a nossa caligrafia que enumeravam a lista da compras do mês, coisas para pagar, para fazer e os postites rabiscados, colados por cima, que rapidamente confessavam tudo que era nós, com uma palavra ou duas ou várias. Um amarelo, “amo-te às 19h”, um azul, “vou te buscar no trabalho”, um laranja, “te devoro mais tarde”, um verde, ”não esquece o casaco”, um rosa, “merda, que saudade tua”… entre outras tantas cores com frases curtas, tão nossas, que eu poderia escrever um livro só com elas.

Ah, se tu soubesses o quanto ainda te vivo aqui! Toda vez que chego em casa e entro descalça e sinto piso frio. Toda vez que coloco a cápsula daquele teu café na cafeteira e deixo o cheiro do café perfumar o ar da cozinha pequena. Toda vez que preparo o jantar e pico as alfaces, porque é só assim que você gosta. Toda vez que já estou deitada e penso em levantar para trancar a porta do quarto e por vezes eu levanto e então lembro do teu conselho preocupado para não tranca-la . Enfim, deixo a porta destrancada, até entre a aberta (acho, que por vezes, ainda a tua espera). Há noites que me reviro na cama por horas. Muitas vezes, porque perco o sono com tantas lembranças que não se ajeitam bem na minha memória e transbordam pelo meu rosto ou porque a nossa cama que nos cabia perfeitamente bem, agora parece grande demais para me caber sem ti.

Se tu soubesses de tudo, será que voltarias? penso, escrevo em versos de boletos, no caderno de receitas, digito em e-mails, directs, na conversa no whats-app, entretanto, eu nunca te envio.

Por: Francielle Santos

(Foto: Reprodução / Pinterest )

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