
Ele tinha passado a fazer parte da rotina dela sem querer. As circunstâncias comuns em suas vidas, haviam aproximados suas rotinas de tal modo que quem os notavam pelas ruas, jurariam que era um casal bem feliz e entrosado. A rotina no hotel os obrigava a escapar para o quiosque na orla da praia para uma água de coco ou para jogar conversa fora ou extravasar (às vezes, com lágrimas) a tensão da vida que amavam e odiavam na mesma medida.
Almoços no refeitório cinza ou no restaurante duas quadras dali. As trocas de sonhos e ideias acompanhados de um expresso dele e um cappuccino dela nas cafeterias próximas. Os abraços nas escadas dos bastidores do hotel luxuoso. A troca de olhares certeiras de quem admirava a profissional que apresentava um projeto para um cliente novo e o desejo pela mulher por debaixo daquele uniforme que lhe acentuava as curvas tão bem. Muitas vezes, ele era o herói dela, entre os imprevistos de um evento e outro. Outras vezes, era o melhor terapeuta quando lhe ouvia as confissões de querer matar a chefe. Era o melhor amigo que abraçava suas ideias malucas de comer espetinhos no quiosque, na praia do Leme e ir pedalando com as bicicletas Itaú.
Quando juntos, o tempo parecia não passar depressa. Caminhavam na areia fria, molhavam os pés e a barra da calça na água agitada do mar, para mais de meia noite. Conversavam sobre tudo. Por vezes, não conversam sobre nada. Encontravam-se sem programação alguma nas mesas da calçada da Voluntários da Pátria, com uma ou duas cervejas e cachorro-quente para acompanhar e de sobremesa brigadeiros e doce de ninho. Antes das partidas, abraços longos e incertezas sobre o amanhã, que por mais que se explicassem, nunca eram explicações justas e suficientes sobre os dois.
Cultivaram ao longo do tempo intimidade. Por vezes, ela ensaiou os convites para que ele entrasse. Não só em casa, mas na sua vida de uma vez. Por vezes, ele a convidou para entrar e ela entrava. Dividiam segredos, jantares, sobremesas de maracujá, vinho, a cama… Ele nunca dava conta de assistir o filme, sempre pegava no sono. Ela o assistia dormir e pensava no futuro se …
Mas nas manhãs seguintes, apesar de sempre divertidas e particulares, o medo do que nem sabia ao certo lhe corria as veias. A urgência de sair e se afastar sempre falava mais alto e forte, do que toda vontade de ficar e morar no seu abraço. E ela partia. No caminho, segurava a mão dele no taxi, como se fosse a última vez, jurava para si que seria a última vez. Ele nunca entendia por que ela precisava fugir dele daquele jeito, mas a deixava ir com a mesma ternura e admiração que a deixava se aproximar no dia seguinte de novo.
Às vezes, o amor faz do outro disposto a entrar, a deixar partir e a esperar chegar de novo.
Por: Francielle Santos
(Foto: Reprodução / Pinterest)