
Acredite. Eu soube que era ela no primeiro stories que tinha o rosto dela, e ela não era como as outras (nem parecida comigo). Tu estava entre os amigos, com rodadas de cerveja. Risos. Olhares. Pagode. E é curioso como mesmo através de uma tela fria do celular, a quilômetros de distância, é possível se dar conta do que a gente perdeu. E apesar de toda a minha convicção e autoconfiança (afinal, eu sempre confiei muito bem no meu taco e você sabe disso); mesmo com toda a minha fé no nosso reencontro, na esperança do nosso futuro, do vislumbre de um dia ter uma filha com os teus olhos, com a tua cor de pele de chocolate (pela qual sou apaixonada), com a tua ousadia… naquele segundo, eu soube profundamente, que eu tinha te perdido (uma mulher sempre reconhece aquela que pode assumir o seu lugar na vida do seu homem).
Naquele primeiro choque de realidade eu queimei dos pés a cabeça de ciumes (logo eu, tão dada a desapegos). Meu coração bateu tão forte no peito que eu queria era atravessar a tela do celular e te arrancar do lado dela. Não tive raiva dela. Tive raiva de mim. Eu queria estar no lugar que era meu. É nesses instantes de lucidez que as lembranças não dão trégua, como uma retrospectiva em alta definição te massacra sem dó e sem piedade. Te estapeia a cara. Te lança no rosto o quão tolo você foi quando teve a chance de ser feliz, mas recuou. E porra, você foi a melhor chance de ser feliz que eu tive na vida!
Eu soube disso desde a primeira vez que nossos olhares se cruzaram no meio daquela gente toda. Eu fiquei impressionantemente irritada e excitada como o teu atrevimento. Minha sede pela vida te aprovou no mesmo minuto que a minha sensatez te reprovou. Eu tive um colapso! Uma crise diante de tudo o que eu acreditava querer e esperar até aquele momento, contra tudo o que eu havia sido preparada para rejeitar e evitar. Você foi a minha contra mão. Você não era o cara loiro, de olhos verdes, sentado em um corcel, com armadura de príncipe. Se essa história fosse uma versão de contos de fada, você com certeza seria o plebeu, todo tatuado do reino. E de repente, eu também tinha me dado conta que eu não era e não queria ser uma princesa. Convenhamos, nunca tive vocação para isso. Quando eu te conheci, o que fudeu mesmo o meu psicológico, foi finalmente ter sido colocada de frente com uma versão mais verdadeira de mim mesma. Você aflorou todos os meus instintos primitivos e irreverências.
Mas agora o que isso importa, não é? Você está com ela. Você gosta dela. Você vai ter um filho com ela. E eu te garanto, que eu a admiro, porque ela teve a coragem e a ousadia que eu não tive de partilhar a vida contigo. No fim, essas palavras não são para tentar te afastar dela ou desejar qualquer coisa contrária que a felicidade para vocês. Talvez, não haja pessoa no mundo que mais te queira feliz do que eu, e no fundo, eu estou feliz por você está feliz. Mesmo que todo o resto de mim esteja estraçalhado pela falta que também é tua.
No fim, o que sobra são sempre as últimas confissões cretinas. Eu tive medo! É a única confissão que me resta dizer nesta altura do campeonato. Todas as vezes, que você estava aqui me dizendo “Eu fico. Fica também!” e eu sabia que era sério, eu ficava eufórica e completamente apavorada. Então eu fugia de você com a mesma coragem que eu queria ter de correr para você. Você me dizia depois de um tempo que eu reaparecia “você me confunde” e eu te respondia em pesamento:“e tu me enlouqueces”.
Era a nova verdade sobre mim que me enlouquecia. Não tive coragem de te assumir para o mundo que eu fui criada, para a realidade que eu sempre pertenci. Se tenho que ser honesta, eu não sabia como te apresentar para os meus pais, para os meus amigos, para a minha vida. Não por vergonha de você, mas por não ter coragem de assumir quem eu era de verdade, porque era diferente demais e eu tive medo de não ser aceita. Que irônico, não é? Não era medo de aceitarem você e sim, de aceitarem a mim. Você foi o gatilho que trouxe a tona uma eu que não cabia na vida que eu tinha. E eu não soube lidar com isso. Hoje, não tenho você e nunca mais fui a mesma. Vivo entre estranhos, que pareciam me conhecer tão bem.
Quantas vezes eu quis te apagar completamente, voltar ao modo convencional. Resetar a minha vida para a minha versão anterior. Contudo, quem conseguiria reprogramar a minha pele depois do conhecimento dos teus toques; o desejo na minha boca depois de provarem dos teus beijos; os sonhos no meu coração depois de gozar dos teus prazeres? Era insanidade tentar. Quanto mais eu fugi de você, mais eu te procurei por aí. Quando eu finalmente desisti de tentar lutar contra as forças que me levavam à você, tu tinhas seguido em frente. Eu voltei tarde demais.
Por: Francielle Santos
(Foto: Reprocução / Tressa Wixom)