
“Essa maldita ansiedade um dia há de matar-me!”
Ela senta-se na beira da cama, ainda de olhos fechados, cabeça baixa e seus braços em paralelo ao seu corpo. Fica assim alguns instantes, buscando em sua mente congestionada de pensamentos repetidos e assolados uma razão. Uma muito boa razão para abrir os olhos e enfrentar ou encarar ou subsistir ou resistir ou sobreviver mais um dia.
Mais um dia daquela vida que já não fazia nenhum sentido existir. Sem graça. Sem cor. Sem sabor. Sem luz. E diante de tanta miséria emocional, ela sempre volta para as mesmas perguntas: “Qual o sentido de tudo isso? ”
Silêncio.
Por vezes, permite que todo aquele silêncio, após aquelas constantes indagações a consuma. Toma uma respiração profunda e abre os olhos, pois no fim, tudo o que é preciso fazer é abri-los.
Toma outra respiração profunda e procura algum tipo de equilíbrio consciente e levanta (e é impressionante a dimensão de cansaço, mesmo depois de uma noite longa de sono).
Arrasta os pés pelo quarto e encara mais uma vez o velho espelho, faz um coque rápido no cabelo despenteado.
Abre a torneira, se permite escutar por alguns segundos o barulho da água descer ralo abaixo, sobrepõe as mãos em concha debaixo da torneira aberta e leva ao rosto, uma, duas, três vezes… olha um pouco de lado o reflexo sob a luz amarelada, enxuga o rosto e se encara e pensa: “pareço uma velha ranzinza”.
Talvez estivesse envelhecendo mesmo e ficando mais ranzinza que o normal, como todo mundo envelhece e fica, pois é isso o que acontece a todo mundo com o passar do tempo ou estivesse envelhecendo de um jeito diferente de envelhecer – envelhecido dez anos a cada uma noite. Mas isso, é só outro gracejo da vida.
Sai.
Por: Francielle Santos
(Foto: Reprodução / Hannas Room)