
Te deixo ir.
Dessa vez sem lamúrias e exigências.
Assisto os seus movimentos dentro de casa, como se estivesse assistindo uma peça triste no Teatro Municipal.
Ajudo com as caixas e assino toda a papelada – exagerada, mas necessária.
Te acompanho até a porta, você volta e revista cada canto da nossa casa (agora, só minha) e certifica-se de que não esqueceu nada.
Enquanto na calçada te espero, eu te observo a atravessar a porta, dessa vez de dentro para fora, com um olhar distante, até alenta um sorriso.
Me abraça apertado como se fosse só mais uma de suas viagens à Barcelona.
Da calçada, com os olhos cheios de lágrimas, te vejo entrar no carro, virar a chave e engatar a primeira.
Seu olhar atravessa o vidro e me encontra uma última vez.
Foi a última vez.
Por: Francielle Santos
(Foto: Reprodução / Pinterest)