como contar que não somos mais um casal?

Levei dias para acomodar os sentimentos novos em seus lugares depois que você saiu por aquela porta. Até acreditei que era só uma fase estranha, mas quanto mais noites chegavam e você não chegava também em casa, mas me dei conta que eu só tinha uma opção. Levantar. Sacudir a poeira. Abrir as janelas. Organizar as coisas. E seguir em frente. É sempre possível seguir em frente, mesmo com o coração partido no peito; e eu tinha que seguir.

De tudo que sobrou para eu ajeitar sozinha, o mais complicado mesmo foi assumir para as pessoas da nossa vida que tinha acabado. Foi encarar a cara de surpresa dos nossos amigos. O olhar confuso do meu pai, que obviamente não viu sentido algum. As perguntas infinitas da minha mãe do que eu tinha feito para estragar as coisas com você. Os almoços na casa dos meus tios que a gente ia sempre, e ele mesmo que sem querer, sem maldade alguma, me perguntando se você estava bem.

Penso que no fim, de tudo o que resta para lidar quando ficamos de coração partido, o mais pesado mesmo são as explicações que a gente precisa dar um jeito de contar, seja por educação, por defesa, por desabafo. Explicar o porquê que não deu certo, o porquê não insistimos um pouco mais, como isso aconteceu e bla-bla-bla. Muitas vezes, juntar palavras avulsas de algo que nem nós mesmos conseguimos entender direito, principalmente quando é muito recente.

Eu me virei, como pude. Você sabe que se tem uma coisa que eu sou boa, é me virar! Contudo, mesmo me esforçando muito, não deu para esconder a voz embargada, o olhar perdido, as lágrimas que teimavam em aparecer em público. Você não vai acreditar, mas até no trem elas ousaram dar o ar da graça enquanto eu voltava para casa do trabalho, ouvindo nossas músicas. Depois de uma conversa boba alí, uma lembrança de um momento nosso com eles acolá e eu me retirava do assunto, mas o assunto continuava na mesa, no sofá… eles comentando: “que pena que terminaram“, “nossa, pareciam se dar tão bem“, “formavam um casal tão bonito“, “ele parecia ser um cara tão bacana, tão responsável“, “e bonito! ” (meu irmão acrescentava para fazer graça) “… o mais bonito que ela arranjou!“, e eu, bem eu fazia de conta que não estava à ouvir. Por vezes, queria não ouvir mesmo, mas já que estava ouvindo, concordava plenamente com eles.

O mais difícil depois do fim, é lidar com essas situações que ficam do outro, mesmo quando o outro não está mais aqui.

Por: Francielle Santos

(Foto: Filme Um Dia / Reprodução / We Hear it)

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