
Entre tantas milhares de palavras, que poderiam ser ditas no ápice daquilo do qual chamei de simples e verdadeira dor, eu sinto muito, foram as únicas palavras que puderam significar o que de fato estava exalando na minha trêmula carne, cansados pés e tristes olhos.
Eu sinto muito, prezado colega. Na minha pressa de fazer tudo, às vezes muito bem, outras nem tanto, esqueci-me de me dedicar um pouco mais, a somente estar mais próxima e tornar-me seu amigo.
Eu sinto muito, caro amigo. Pelas minhas ansiedades e lamentações na vã urgência de estar presente, de desejar ser a melhor, de contar-te tudo, tim-tim por tim-tim, publicar lindas dedicatórias por aí, porém ter me esquecido, que as vezes, só existir na sua vida era o bastante para ter-te mais comigo.
Eu sinto muito, querido irmão. Pela minha insensatez e arrogância de sempre achar saber o melhor para ti, mas quase nunca tentar ser o melhor à sua vida. Entre tantas brigas, por jamais ter a audácia de encerrá-las com uma piada ou só com simples sorriso. Por tantas horas sem falar sequer uma palavra, não ter tido a humildade de quebrar o silêncio, mesmo que fosse, com um cafuné ou um abraço amigo.
Eu sinto muito, meu herói e pai. Pelas infinitas tentativas de ser alguém tão grande quanto ou mais que você. Pelo injusto julgamento de que mesmo sendo um herói, eu era filha de homem, tão falível como eu. Pela insensatez de compreender, que seu jeito de amar, ainda que da sua mais simples e capitalista maneira tão me ama tanto quanto eu.
Eu sinto muito, mãe. Por não ter tido a coragem de te olhar nos olhos e dizer que não estava funcionando, quando nada para ti era perceptível, mas uma só frase ou gesto meu bastaria para mudar tudo entre nós. Por ter pensado e julgado, porém nunca realmente tentado ser, só um ser humano propício a errar, como ser falível que sou. Pela falta de sensibilidade, por não compreender e saber receber o seu cuidado imensurável e imenso amor de mamãe. Por ter sido tudo a você, menos a sua filha.
Eu sinto muito, mulher e tão menina eu. Por tornar-te sempre forte, mas quase nunca forte o bastante para se permitir, simplesmente sentir suas tão intensas e verdadeiras emoções. Pelas lágrimas reprimidas e pelos risos guardados. Pelos sonhos e desejos deixados de lado, se por um alguém, se por um momento, se por uma incerteza, se só por deixar vencer a sua covardia. Pelos tantos quase: “quase agora, quase hoje, quase um dia…” no entanto, quase nunca uma realidade finita. Pelos muitos papéis protagonista, com diferentes textos, por muitos palcos e para diversas plateias. Todavia, por não ter tido a ousadia de ser no mundo, nada além menos de quem era. Por tantas horas dedicadas à deixar tudo tão bem registrado, marcado no calendário e guardado naquela caixa velha (tudo o que tinha sido e tudo o que deveria ser). Embora lindos versos, contos e fábulas, foram tão somente, incontáveis horas dispersas no tempo, no lugar de existir e viver. Eu sinto muito, pelo o amor somente carregado no peito, quase nunca corajoso e gentil o bastante para ser apresentado ao mundo, como ele é.
Eu sinto muito, por você estranho. Que se dispõe a ver, a ler, a escrever, a pensar, a acreditar, a desejar, a planejar, a desenhar, a colorir, a fotografar, a sentir, a sofrer, a amar, mas não escolhe, a viver hoje, sem o peso do ontem e sem as vãs expectativas do amanhã, na linha infinita do tempo da sua vida.
Por: Francielle Santos
(Foto: Reprodução / Pinterest)
tão forte!
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