você, um câncer

Tem intimidade que amarga. Tem amor amor que apodrece dentro do peito e adoece. Nem sei se é justo chamar isso de amor. Quando o diagnóstico chega (às vezes, anos depois) é como descobrir um câncer maligno no corpo que foi consumindo seus órgãos em silêncio. Quando o laudo é concluído, o doutor pede que você vá acompanhado para conversar, porque não tem coisa boa para contar. Tem gente que não é coisa boa para contar e a gente nem se da conta disso.

De tudo que sonhei ser na vida, nunca (nunquinha) passou pela minha cabeça ser aquela que se esconde; que se silencia quando o telefone toca; que vê quem ama ir embora antes do sol chegar; que não liga ou manda mensagem a qualquer momento quando sente saudade, porque tem medo de ser descoberta (ou dele ser descoberto pra ser mais honesta); que não comemora as datas importantes, como o dia dos namorados ou o primeiro mês ou ano juntos; que não posta as flores ou encontros em lugares fofos, pois ninguém pode desconfiar; que fica atenta até na pressão das unhas que querem arranhar a pele, pois não pode deixar marcas; que aceita as sobras do tempo, as escapadas, que para tudo e da um jeito de receber os rompantes, porque nunca se sabe quando outra oportunidade vai existir; que ouve e corresponde as juras de amor no calor dos orgasmos e entristece quando o corpo esfria, pois no fundo sabe, que são promessas que nunca vão se cumprir.

Depois de todas as versões de quem fui, gradativamente, me tornando para você: o encontro que não rolou, a amiga, depois um upgrade para a melhor amiga, quase namorada, amiga de novo, substituída, esquecida, colega, terapeuta de bar; amiga mais um vez, tinha chegado a fase final: a outra.

Hoje, penso que ninguém ou pelo menos a maioria não planeja ser esse tipo de pessoa na vida de alguém. Eu que sempre abominei esse tipo de história, por conhecer de perto as cicatrizes na minha família, quando a ficha caiu mesmo, taquei a escova de cabelo no meu espelho e o arrebentei inteiro, queria me arrebentar, mas fracassei miseravelmente.

De todas os sentimentos que você me deu, sem dúvidas, este quase me matou. Foi quando me vi apodrecendo de dentro pra fora. Fazendo. Aceitando. Recebendo. Sendo coisas que eu nunca quis na minha vida. Traindo a mim mesma e todas as coisas que eu acreditavam serem justas. E mesmo que eu diga, que eu te amava tanto e amei por longos sete anos (ou acreditava fielmente que era amor) e estava cega (ou doente) por ele, nada apaga ou me absolve da culpa, da vergonha, do nojo de mim mesma.

O pior engano é acreditar no amor que rouba de nós as bases, os princípios, a dignidade. Você já tinha me roubado de tudo: de noites, energia, planos, sonhos, madrugadas, tempo, até possibilidades de amores saudáveis, que quando éramos “amigos” você desdenhava todos e ainda prometia que eu seria sua no final das contas (e eu ria do que parecia ser piada e por dentro, torcia para ser uma verdade escondida entre linhas), mas aí veio o estágio final. Você roubou as minhas verdades inabaláveis. Como um cristal quebrou o meu orgulho e honra. Tem coisa que não dá para consertar, não há cola no mundo que de jeito. Você sem dúvidas fez um estrago irreparável na minha vida.

Por: Francielle Santos

(Foto: Reprodução / Ok.ru)

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