
Domingos…
Almoço no começo da tarde, comida gostosa, pudim, cafezinho, a família ao redor da mesa. Barulho. Assuntos aleatórias. Intimidades. E você.
Você, o ponto silencioso que observa a vida acontecer a sua frente. Você, as tentativas malsucedidas. Você, as escolhas improváveis. Você, a versão dubitável. Você, o livro abandonado antes do fim. Você, o filme mal dirigido. Você, a espera da virada de chave, de ideia, de vida.
Tem domingos que arrebentam a gente por dentro sem querer. Nada mais desconcertante do que estar em casa e não se sentir em casa. Estar entre os seus e não sentir-se parte dos seus. Sei que tem algo errado comigo, que não é de hoje, mas finjo que existo. Faço de conta que participo, que estou ali, sentada na mesa tão feliz ou quase isso como eles.
Nem sempre foi assim. Penso que nunca deveria ter chegado a esse ponto de desconexão com a realidade que me é servida na mesa. Por vezes, considero a possibilidade de estar perdendo a minha sanidade (e Deus sabe, como essa possibilidade me assombra mais do que morrer em si). Porém, no fim mesmo, eu só me sinto perdida entre eles. Uma peça do quebra-cabeça que não se encaixa. Um pontinho cinza, no meio do arco-iris. Sigo sorrindo, entre um gole de café, um aceno de cabeça para um, o olhar atento naquele barulho todo e eu sou simplesmente o ponto central do silêncio.
Silêncio. Eu nunca tenho muito o que dizer que combine com tudo aquilo. Eu nunca combino e suspeito que nunca combinei antes. Me viro como dá. Torcendo profundamente que o dia acabe logo e eu possa voltar para o meu quarto e me esconder debaixo das cobertas. Às vezes, tudo o que me resta é a fuga para as cobertas.
Por: Francielle Santos
(Foto: Reprodução / Dose de Ilusão)