
Sábado, 22h01, foto postada no Stories.
22:03: Seu rosto me enlouquece!
22:05: Oi, tudo bem?
22:05: Estou bem, mas tenho saudades demais de você.
22:06: Não sente tanto quanto eu …
22:06: Será?
22:06: Tenho certeza!
22:07: Eu tenho muita saudade de você a ponto de furar essa quarentena fácil…
22:07: Quando?
22:08: Sexta.
22:08: Ok, sexta então.
22:09: Na sexta conversamos direitinho sobretudo.
22:09: Vou contar os dias.
Ela colou post-it no planner (sexta-feira, encontrar o amor) por cima de todos os compromissos de sexta. Desde sábado, revirou o guarda-roupa e acabou ligando para uma amiga que tem loja virtual para dar um jeito de fazer uma entrega expressa de uma peça novinha. Pensou em cada detalhe com tanto cuidado como se fosse a ir a um show da Broadway, da cor das unhas, ao perfume favorito dele, a lingerie de renda fina preta (que ele amava) aos acessórios.
Uma semana nunca demorou tanto para passar como aquela. Cada dia uma eternidade com doses caprichadas de possibilidades. Tem gente que acende. Desperta entusiasmo pela vida, pelas chances, pelos riscos. É brasa que queima no peito. É porto e calmaria, no meio do caos das tempestades. É a notificação mais aguardada, é a espera que saliva os lábios, que esfria a espinha dorsal, que agitam as borboletas no estômago. Ele certamente inquietava todas as dúvidas e todas as certezas.
A sexta-feira chegou, finalmente. Ela se levantou no horário de sempre, às 5h50 para correr seus 10km. Quando chegou tomou um banho longo e quente. Esfoliou a pele. Hidratou os cabelos. Preparou um café da manhã caprichado com frutas, iogurte, croissant, um café forte feito na Mokka que tinha trazido de Roma. Leu as manchetes no IPad. Seguiu para a prática de Yoga no meio da sala, com aromatizador de limão siciliano, com trilha sonora de RAP português. Aquietou os pensamentos, a alma, o corpo. Tomou um chá. Tomou um outro banho, deixou os cabelos molhados, amava a sensação deles na pele. As lingeries separadas desde sábados, cobertas pelo vestido preto que havia comprado, uma camisa jeans desbotada por cima. Botinha preto de cano baixo. Maquiagem leve, reforçou só o rímel e um batom vermelho a combinar com as unhas feitas.
Ela estava faminta…
Na garagem, dentro do carro, digitou o endereço no GPS. Conectou no som do carro a playlist favorita, ligou o carro e saiu. Dirigiu da zona sul à zona oeste de SP. Não hesitou nem por um segundo à ideia. Suspeitava que se tivesse que ir até outra cidade, ela iria. Outro estado, ela iria. Só bastava ele dizer: vem! Que ela saia ao seu encontro.
Estacionou o carro na frente do prédio comercial. Pensou, em mandar mensagem para avisar, mas a ideia de surpreender lhe ruborizava a pele. Pediu para interfonar no escritório. “Ninguém atende”, respondeu o porteiro depois de duas ou três tentativas. Ela checou as horas no pulso esquerdo, estava 30 minutos adiantada do combinado. Entrou no carro para esperar.
Esperou. Esperou. Esperou…
Passou a tarde e metade da noite, dentro do carro. Com ímpetos de euforia com doses caprichadas de raiva de si mesma, dele, de tudo. Já era quase 22:01 quando ela desistiu de insistir das mensagens não respondidas, das chamadas não atendidas … Apesar de todas os sonhos que tinha sonhado, estava frustrada consigo, pois sequer se sentia surpreendida (já nem era a primeira vez que ela ficava a espera).
Engatou a ré na vaga que tinha estacionado. Dirigiu pela cidade sem nem se lembrar que tinha rodares pela marginal. As lágrimas quentes e raivosas escorriam pelo rosto, o pescoço, os seios… Mal conseguia respirar. Dizia baixinho, entre uma ultrapassada e outra: “é a última vez! é a última vez! é a última vez!“…
O amor, a espera que nunca chega!
Por: Francielle Santos
(Foto: Reprodução / Noufaltamiimi)