
Você está bem. Seguindo sua versão de vida nova, sem todos aqueles tumultos e incertezas e aí vens tu…
Tu, repleto de juras, promessas, confissões (tão repetidas, tão óbvias, tão redundantes). A voz serena, até aspira admiração pelo o que tenho feito. O olhar bobo, a fotografar cada movimento meu como se nunca tivesse visto antes. As mãos quentes que insistem em me tocar o braço, o rosto, a cintura. As palavras ideais que formam as frases perfeitas. Para tudo há um jeito. Para tudo há uma justificativa, uma razão para desculpar e quem sabe, eu ter a sorte de recomeçar.
Recomeçar o que? Eu me pergunto. Nunca esteve presente nem para começar direito. Não dá para tentar viver uma história de antes, se o antes nunca foi uma verdade. Quer escrever em cima de um rascunho muito mal feito. Deveria ser inconcebível alguns reencontros.
Sento na mesa da cafeteria a sua frente, não faço questão de ficar ao lado. Escuto atenta como antes as tuas histórias, por mais que agora, eu já não esteja realmente interessada nelas (penso, que é só o senso de educação). Respondo as tuas perguntas sem muitos detalhes, já não tenho vontade de partilhar tudo contigo. Peço uma taça de vinho tinto seco, também não tenho mais motivos para dividir a caneca de chocolate quente que a gente amava.
Nada que vem de você, por mais que eu até reconheça certas sinceridades nas entre linhas me convence, me cativa, me encanta como antes, quando as tuas bobagens, as piadas estupidas, as histórias mal contadas bastavam para você ter o que quisesse. “O amor é cego“, finalmente vejo algum sentido nessa frase! A paixão que eu sentia, percebo, enquanto te observo a tagarelar do outro lado da mesa, deixava-me estúpida, fácil, pequena.
Parece que trocamos de lado. A diferença entre nós, é que eu não aceito o estupido, o fácil, o pequeno. Quase me desculpo pelo o que parece uma injustiça poética, mas me dou conta que não é e ainda que seja, já não me é importante, então sorrio cinicamente a tua frente. Eu finalmente alcancei aquele estágio que você dizia que eu chegaria entre um deboche e outro: “O dia que você amadurecer, vai dá muito trabalho!”, se houve uma coisa que você teve muita razão em dizer, foi isso!
Por: Francielle Santos
(Foto: Reprodução / iCasei )