
Uma vez eu li que “o último estágio do amor era a amizade“. E eu pensei: quem dera, o inicio do amor fosse a amizade e não houvesse o ultimo estágio em ambos.
São as amizades que ficam apesar de tudo. São as verdadeiras amizades que nos suportam apesar de nós. Há de se contar no dedo quantos nos veem nus e sem curativos e não saem correndo. Mais ainda, aqueles que ficam e que ajudam a cuidar do que quer que seja.
Eu tive tantos amigos (as) e cada um deles, dos mais íntimos aos mais rasos me forjaram a vida. Há de se dizer que as pessoas levam pedaços de nós e deixam pedaços delas em nós. E talvez, essa seja a única verdade. As pessoas não ficarão para sempre juntas (nem mesmo os grandes e velhos amigos), mas os pedaços delas em nós serão eternos, porque esses pedaços também nos constroem.
Hoje eu me lembrei da minha primeira melhor amiga (ela só não tinha meu sangue), mas era uma irmã desde que me lembro, desde que eu tinha 4 anos e ela 3 anos. Ela era minha metade, era tudo o que eu não era e eu era tudo o que ela não era. Sabia tudo, me contava tudo. Escrevíamos cartinhas uma para outra (ainda as tenho guardadas). Brincávamos de boneca e de casinha e já sonhávamos com o futuro (meados de 10 a 12 anos): “quem sabe casaremos em datas próximas uma da outra e planejaremos ter filhas com dadas próximas também, para que elas sejam assim, como eu e você, melhores amigas para sempre“…
O para sempre não aconteceu (raramente acontece não é?). A vida foi acontecendo e nossas vidas tomando um rumo tão diferente que deixamos de ser amigas. Por muito tempo, eu me fechei para as amizades. Me fechei para tudo. Doeu tanto os dias sem ela. Eu me sentia tão sozinha; e talvez tenha sido ali, a primeira vez que meu coração ficou aos pedaços.
Todavia, mesmo quando desistimos das pessoas, Deus não desisti de cuidar de nós através das pessoas. Verdadeiros amigos são o cuidar de Deus de forma humana em nossas vidas; até a saída de alguns desses amigos (mais tarde eu vim finalmente entender isso).
O tempo passou, o coração finalmente pareceu juntar os cacos e só depois eu entendi que as novas pessoas que foram chegando sem saber, sem perceber, foram me curando de novo. Amigos antigos renasceram das cinzas e novos chegaram como um arco-iris que brilha no céu reluzente e colorido depois da tempestade.
Novos sabores vieram. Novos jeitos e hábitos. Novas histórias foram escritas no sofá, na sala da faculdade, na praças de alimentação dos shoppings da cidade, nas cafeterias com bons cafés fortes, na mesa de bar, na areia da praia, em viagens de fim de semana… E no fim, eu me dei conta que são os amigos que fazem da caminhada tão mais bela. É sim possível ficar sozinho e se virar, mas nada é mais gostoso e valioso do que ter alguém com quem contar e compartilhar, sejam os dias quentes ou os dias frios.
Sobretudo, precisamos entender que todas as pessoas são passageiras (até nossos pais nos deixarão um dia). Seja pelos caminhos da vida que uma hora deixam de ser compatíveis; seja por mudança de hábitos, valores e crenças; seja pela a vida que se acaba. Nunca estamos prontos para perder ninguém que amamos, principalmente os melhores amigos. Tenho pra mim que “ex” amigo, doe mais que “ex” amor. Porém, o meu desejo é que possamos guardar em nós o que realmente importa de tudo.
As memórias felizes. Os encantos. As gargalhadas altas. Os segredos sussurrados ao pé do ouvido. As madrugadas tagarelando sobre tudo ou sobre nada no telefone. Os postais e fotos que recebemos das viagens. O colo. As discussões por bobagens que sempre acabavam em risos e bagunça. As pirraças. As broncas com doses especiais de muito cuidado. As orações (só os verdadeiros amigos, conversam sobre nós com Deus). Os abraços, principalmente os abraços. Não tem abraço mais apertado que dos amigos de verdade!
No fim, eu sou grata à todos; todos os amigos que já se foram, aos que estão e aos que ainda estão por vir, e principalmente aos que nunca deixarão de ser meus amigos. Vocês são o colorido na minha vida preto e branco!
Por: Francielle Santos
(Foto: Arquivo Pessoal)