cinco anos

Eu e você sempre foi: ou tudo ou nada.
Na primeira vez que estivemos um na presença do outro no meu aniversário de dezoito anos, desci do carro depois de você ir me buscar na faculdade pensando, como a minha amiga podia achar que eu e você daria em alguma coisa. E naquele momento deu em nada mesmo e consequentemente, mais tarde se tornou tudo.

Horas e horas a fio da madrugada falando do dia, das memórias, dos planos, dos problemas, dos amores e das loucuras. Você passou a ir almoçar comigo e até me fazer cozinhar e inventar sobremesas. Trocamos segredos, compartilhamos anseios, dividimos preocupações, compartilhamos risadas juntos. Assistir os teus fins e recomeços de camarote. Tal como você assistiu meus quase e partidas inesperadas. Estávamos lado a lado. Dois anos que estivemos tão presente na vida um do outro, que já nos reconhecíamos um no outro.

Então veio o seu namoro, a minha partida e mesmo a um oceano de distância era sua foto na minha cabeceira que me fazia companhia. Eu mudei drasticamente. E com o meu retorno, agora mulher a sua frente, a nossa relação mudou também. Então tiramos das ideias para a realidade o que você costumava dizer para me provocar, que um dia faríamos do filme “Amizade Colorida” a nossa realidade.

Três anos depois da primeira vez, estava eu no seu portão para dizer que te amava o bastante para esquecer os contratempos do último ano, para perguntar se aceitava a minha amizade de volta. E você me deu não há antiga amizade, mas a amizade colorida. Uma madrugada de seu aniversário, em que um presente foi motivo externo para me levar até você, porém os sentimentos fizeram com que as palavras pouco fossem necessárias e o nosso desejo guardado a tanto tempo fosse realizado pelo o universo. Como se tivéssemos voltado a primeira vez e agora aquele nada de fato fizesse sentido e aquele carro se tornado pequeno ao nosso calor e suficiente para fazer de nós, o nosso tão finalmente tudo.

Foi em seguida um ano confuso. Para mim, para ti, acredito que para todo mundo. Quando estávamos juntos era como se nunca tivéssemos nos separado. No entanto, quando me deixava em casa, me olhava de dentro do carro, eu esperava você me dar um último tchau, nos tornávamos desconhecidos outra vez. Ansiava a sua presença todo dia, mas não te encontrava. Tudo que era bom começava a doer e não tinha remédio para neutralizar aquilo que eu desconhecia. De modo cruel, o que era maravilhoso entre nós foi se corrompendo. Claro, tudo foi uma questão de percepção individual. Quem poderá dizer que entendi tudo errado ou que ainda que fosse certo, estava certo?

Aqui cinco anos depois do nosso primeiro encontro em que fomos nada, o que veio a ser o nosso tudo se dissolveu, se perdeu, se esqueceu e mais uma vez se tornou nada. Nada entre nós e tudo dentro de mim. Fecho os olhos e te vejo descer da moto, tão diferente da primeira vez, mas ainda assim tão familiar para o meu coração. Evito olhar-te nos olhos, porque temo não ver nos teus os meus desejos. Falamos o necessário, trocamos um sorriso ou dois e você se vai e como eu não sei, tudo que existiu, ressurgi dentro de mim, como se nunca houvesse de fato me deixado. Te abraçaria cem vezes mais. Te beijaria mil vezes mais. A ti me entregaria por todas as noites da minha vida. Te amaria por todos os meus dias…

Eu não sei se um dia, você vai chegar aqui de forma inesperada e eu não vou sentir esse desespero interno de não saber como esconder de ti tudo o que ainda sinto. Não houve uma vez sequer em que o acaso te trouxesse a minha frente que não me fez tremer. Eu juro que eu gostaria de te olhar, agora tanto tempo depois, depois de tantos enredos desnecessários, de tantas trocas mal resolvidas, tantas entregas, tantas decepções, tanta insuficiência e simplesmente não sentir nada. Para ser mais franca, eu gostaria de nem sequer te reconhecer. E tudo isso é bem foda… porque no fim, você sempre reaparece (não por minha causa, é claro!), eu te olho, estremeço, respiro profundamente três vezes para ao menos fingir que está tudo em ordem, de comprimento, te ouço, te respondo e digo, “tchau” quase dizendo “eu te amo“, completo com um “até logo“, quase pedindo “fica“.

Já são cinco anos de encontros e desencontros. Histórias cruzadas no meio dessa história que parece nunca ter um fim realmente. Nos afastamos drasticamente e da mesma forma nos reaproximamos. A gente se esquece e do nada a gente se lembra um do outro e todo o resto, a distância e o tempo parece se dissolver, como se nunca sequer tivéssemos nos magoado, se distanciado ou se esquecido.

É complexo apesar de nessa altura da história já termos nos explicado tudo. Pergunto-me se um dia terá um fim de verdade. Se um dia os nossos caminhos vão se cruzar assim, em uma terça qualquer, de uma semana qualquer, de um mês x do ano e finalmente eu não sentirei mais nada, nem a vontade de mudar de direção e correr sem olhar para trás e nem a vontade insana de te abraçar forte e ali ficar por alguns minutos.

Nesse dado instante em que de fato não somos mais nada. Absolutamente, mais nada um para o outro. Nenhuma palavra é coerente para lidar com tudo isso que ainda martela aqui dentro. Aliás, nem sei se deveria tentar de algum modo por tudo isso para fora. No fundo eu sempre soube que as nossas percepções de tudo que era sentido e vivido entre nós era diferente para ambos. Se em alguns momentos estar junto fazia todo sentido, na maior parte dos outros não haviam razões suficientes.

De fato eu nunca conseguir ter seu coração em totalidade, não da forma como eu queria, como o meu amor por você queria. Por vezes, lidar só com as nossas atrações físicas sempre foi mais fácil. De fato, você esteve sempre mais distante do que eu gostaria. E eu sempre estive mais aqui por você do que eu de fato queria, quer dizer, eu queria sim, só não queria ter que lidar com a sua indiferença.

Nessa altura, onde só há meu amor um tanto quanto cansado de esperar, sabe se lá o que de você. Eu só posso parar e respirar mais umas três vezes profundamente, te olhar como sempre olhei, de ouvir como sempre ouvi, te responder como sempre respondi e te dizer adeus como aprendi a fazer depois de tantos tchaus indesejados e continuar aqui, como sempre estive. Por quê sei que você vai sumir mais um tanto de tempo e vai reaparecer como se nada tivesse acontecido ou o tempo passado e todas essas sensações familiares vão me inquietar como dá primeira vez.

Por: Francielle Santos

(Foto: Reprodução / Hosanna Store)

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