
Ainda amo você. Ainda espero você. Ainda planejo uma vida com você.
Parece teimosia (e talvez seja teimosia sim), mas eu não quero te ver com outro. Não consigo imaginar outro sentindo a pele que é minha, a boca que é minha, os olhos castanhos que são meus. Me doe os ossos só de pensar outro visitando as partes tuas que são minhas.
Eu sei que eu estraguei as coisas entre nós. Todas as vezes que você me cobrava só mais um pouco de calma para lidar com as nossas incompatibilidades e eu queimava de raiva e não conseguia me conter.
Eu ficava furioso contigo por tão pouco. Eu desconfiava por tão pouco. Eu não conseguia sequer te ouvir sem que perdesse a razão. E eu perdi não só a razão, mas também você. E dentre todas as minhas perdas, você é que mais custa a minha paz e fé para seguir em frente.
Hoje eu te vi na padaria comprando carolinas. Nunca entendi porque você gosta tanto de carolinas! Mas como eu quis estar com você para comprá-las, te abraçar por trás e de beijar o rosto, como fazíamos nas filas por aí.
Eu já considerei assinar aquela papelada toda que teu advogado me entregou há algumas semanas. Mas como assino papéis que praticamente me sentenciam a morte ? Amor, sem você eu me sinto a beira da morte, me perdoa se não me dei conta disso antes.
Não sei se existem palavras no mundo que explique a minha necessidade do teu perdão. Sobretudo, a necessidade de ter uma segunda chance de passar nossa história a limpo. Uma chance de sair do coma que eu estou desde que você se foi. Amor, tu é a vida que me falta. Se não te liberto, é porque te amar são os tubos que me mantém respirando.
Todos os dias eu penso em libertar-te nas questões burocráticas. Sento com os papeis na minha frente, pego aquela caneta que seu pai me deu em um dos nossos natais de família, chego a encostar a ponta dela no papel, mas não tenho forças para assinar. O que é ridículo, não é? Você já deixou essa casa, nossa vida, a minha vida, só sobraram esses malditos papeis, a pior parte de nós.
Como te deixar partir? Como viver o resto da minha vida se não ao teu lado? Como abdicar de todas as promessas que fizemos no altar? Eu me pergunto todas as noites e não encontro respostas. Te amo tanto, que me sinto completamente cego para as possibilidades da vida sem o teu perfume nas minhas manhãs, sem as tuas implicâncias chatas durante os meus dias, sem o teu riso antes dos meus olhos se fecharem todas as noites.
Ainda te amo tanto, que voltaria no tempo e corrigiria cada vacilo, cada intolerância, cada falta. Ainda te amo tanto …
[som dos riscos nos papéis em cima da mesa, copo de uísque com gelo ao lado deixado antes do fim]
Por: Francielle Santos
(Foto: Reprodução / Hispace)