
A vida não deixa de ser por causa de nós, mas ela acontece quando te encontro. Eu sei. Eu sinto. Eu vejo nos teus olhos negros. Cada instante a partir de nós é maior. Todas as regras deixam de ser. Todas os rótulos desaparecem. Todos os não’s, se tornam em sim’s. Todos os amanhãs, passam a ser o exato e preciso, agora. O já acontece quando tu me encurralas em qualquer muro dessa cidade ou no da minha casa, me rouba a vida e a devolves em seguida com um único beijo.
Passo a vida a espera do extraordinário. E às vezes, o extraordinário acontece. Basta que tu venhas e entres como se nunca houvesse saído e toda verdade do tempo de distância e ausência entre nós é esquecido. Qualquer cerimônia é dispensada: a casa, tudo que se encontrar em cada cômodo, os móveis, as cortinas, o tapete, as frutas na fruteira, os doces na geladeira, as roupas de cama, as minhas lingeries, tudo seu. Inclusive eu.
Minha pele acontece quando as tuas mãos caminham por ela. A vida arde dentro de mim quando és tu a desbravar cada centímetro da nuca ao tornozelo, do tornozelo a nuca, a subir e a descer, a descer e a subir sem pressa. Meu corpo todo acontece quando os teus lábios o regam, como o sereno da madrugada que molha calmamente as ruas da cidade.
Minha boca acontece quando são os teus lábios que veem de encontro. E a vida ao redor deixa de ser tão tediosa ou exaustiva: quando eu provo outra vez o sabor que é teu e sempre foi o meu favorito. Tu, o meu gelato de chocolate belga que derrete dentro da minha boca.
Eu existo quando os teus olhos leem os meus e responde todas as reações do meu corpo que reage a tua presença e tu toma tudo para si com seriedade, e defende, e alimenta, não questiona, e corresponde, e obedece… cada intenção escondida, cada saudade guardada, cada segredo a ser dividido.
Meu silêncio acontece quando os teus braços me guardam do mundo todo. Há de não haver medo ou confusão quando são os teus braços a guardar a vida que nos acontece. Quando o teu ficar é o meu porto seguro. Quando a vida que nos aguarda do outro lado da porta deixa de ser urgente. E eu sou a urgência a ser resolvida por teu corpo pesado, todo, em cima do meu. Você me resolve, me dissolve e se reescreve no meu coração.
Eu aconteço quando te sinto em mim. E tudo o que eu duvidava, eu creio depois que você está perfeitamente dentro do corpo que tu chama de teu. O amor me acontece quando você diz entre os meus lábios e os teus que sou tua. Nada menos e nada mais que isso pode ser amor além de nós. Nenhuma palavra pode ter mais poder sobre mim do que quando tu dizes “minha”. E eu sou. Sempre fui. E hei de sempre ser, tua.
Amo você. Independente de quem sou agora ou de quem posso ser depois. Amo, para a vida acontecer em mim. Te, para a pele arder. Só tu podes fazer a vida arder e me queimar assim.
Por: Francielle Santos
(Foto: Reprodução / Dirty Boots)