
Escrevo para ser o que não fui. Entre o espaço do papel em branco na minha frente e a caneta que escorrega palavras que eu não soube dizer, que descrevem as ações que eu não dei conta de fazer, sou alguém que beira a perfeição ou ao menos, melhor do que aquela que escreve.
Escrevo para te amar de verdade. Quando penso em você, me sinto tão pequena diante de nós ou do que fomos, que me torturo por horas. Aqui, sozinha, imaginando e tentando descrever o que sonho de olhos fechados, você é perfeito. E eu chego a ser algo assim também e a nossa história não tem fim ou qualquer pausa dramática. Quem foi que inventou as pausas dramáticas? Cretino! Será que não pensou que algumas pausas eram difíceis de retomar? E que muitas delas se perdem para sempre?
Escrevo para não te perder. E mesmo quando escrevo que te perdi, ao menos te perco direito (ou me esforço muito para isso). Com calma, sem lágrimas, mágoas e palavras mal pensadas eu encontro motivos mais convincentes, mais sérios. Preencho as lacunas entre nós. Enriqueço a história do fim para pelo menos valer um filme nas telas dos cinemas da cidade. Não me perdoou ter te perdido por tão pouco. Não me conformo por não termos uma história digna de Hollywood para contar. Penso que se for para quebrar, no minimo, que quebrássemos a nível de uma tapete vermelho e com grandes chances de um Oscar.
Escrevo para me libertar dessas coisas todas. Estou aqui, no futuro que não imaginei e que já é presente. E por vezes eu não faço a minima ideia do que estou fazendo comigo, com a vida que é minha, mas não tem nada a vê comigo e com as correntes que me prendem a nós. Tu ficou no passado, mas continua vivendo dentro do meu coração no meu futuro. Deve ser castigo. Considero os meus erros um a um e me percebo merecedora dessa infelicidade.
Escrevo para merecer a felicidade. Ser feliz de novo comigo, contigo, de algum jeito… Entretanto, as palavras me traem descaradamente. Não posso descrever algo que nunca provei e se provei, não estava lá de verdade para me dar conta que fui feliz. Fatos que me despedaçam friamente todos os dias. A ansiedade pelo futuro, se tornou o medo de constatar a cada dia do presente que nada no meu passado valeu um puto. Não se arrepende do que se fez e sim, do que não se fez. Eis uma verdade que deveria ser reza matinal. Mas o que importa tudo isso agora? Para que me serve os arrependimentos se não para me cortarem aos pedacinhos?
Escrevo para ser inteira. Levei anos na escuridão, crendo absurdamente que havia alguma metade minha perdida no mundo e que eu encontraria. Aí chegou o dia que eu me encontrei no chão nua de tudo, transpirando sangue feito um porco no matadouro, em plena luz do dia e me dei conta que eu estava todinha ali. Todinha mesmo. Com todas as sombras do passado, todas as marcas, todas as feridas, todas as alegrias, todos os sonhos, toda a vontade insaciável pela vida. E coube a mim, só a mim a coragem de ir até o fim de eu mesma ou me entregar ao fim ali mesmo.
Escrevo para não me entregar ao fim. Ao menos aqui, sem ninguém, inclusive sem essa versão desprezível de mim com as incertezas e covardias, eu posso seguir em frente. Posso amar de novo. Posso sonhar de novo. Posso ser eu de novo. Pelo menos aqui, eu sou aquela eu quem eu menina sonhou ser e ela se orgulha verdadeiramente de quem me tornei. Eu sou quem eu prometi à você quem eu seria: um mulherão da porra! e eu convenço a todos disso. Aqui, mesmo sem tudo o que ainda não foi. Eu faço ser e sou finalmente livre. Inclusive aqui, eu te amo sem ter que me preocupar com tantas coisas. Aqui, o amor e a vida são simples de ser e viver, pois é isso que ambos realmente são.
Escrevo para viver a vida simples comigo e contigo, porque ambas sozinhas seriam incrivelmente tediosas. E eu nunca acreditei que uma vida tediosa vale o esforço dos dias. Aqui sou feliz sozinha. E sou mais feliz ainda acompanhada de ti. Reescrevo-me para ser eu e escrevo-te, porque és a minha melhor escolha e consequentemente, o escrito mais bonito nos meus papéis.
Por: Francielle Santos
(Foto: Reprodução / Blog Desabafar )