
A pior merda é você esperar muito na rodoviária para embarcar em uma viajem que você deseja com todo o coração não fazer (por mais que você seja um amante por viagens). As horas que decorrerem de espera são como uma sessão de tortura. Você se sente um merda. Impotente diante da vida que fica e pequeno diante da vida que vai encontrar do outro lado.
Tem princípios de loucura. Busca como quem procura uma agulha no palheiro por uma outra alternativa (cadê a droga do otimismo para iluminar uma dessas ideias geniais?). Talvez entrar no primeiro ônibus que passar na rua. Talvez pedir uma carona. Talvez roubar uma bicicleta ou uma moto. Talvez entrar num desses táxis parados na saída, quando o motorista perguntar pra onde? Responder certeira: para o mais longe que puder me levar desse fim! .Talvez só sair correndo e dobrar a primeira esquina à direita e nunca mais olhar para trás.
A espera me corta as partes. Muitas partes. Nem sei como estou de pé ou sentada (minha exaustão disse que ambos estados são a mesma coisa). A mochila nas costas me pesam quilos. A minha tristeza toneladas. Tenho vontades absurdas de abandonar tudo no chão, inclusive essa eu sem opções. Tenho vontades absurdas de atravessar a ponte sem olhar para os lados. Qualquer uma dessas coisas estupidas deve ser melhor que voltar.
Queria ainda pode confessar que essa a primeira vez. Sempre penso que as primeiras vezes tem lá sua intensidade, porque são simplesmente primeiras vezes! Ninguém esquece uma primeira vez de nada. Mas aí vem as segundas, as terceiras, as quartas …e eu juro que morri na primeira, e a cada repetição, isso fica cada vez mais claro. Nem sei como atravessei as outras. As outras tem só consumindo o corpo, as partes que sobraram.
Sempre sinto que volto menor. Volto por falta de opção, óbvio! Ninguém entra na fila do matadouro por vontade própria. Ignorância é achar que faço isso comigo por prazer!
Dou play na lista de músicas mais triste do Spotify no volume mais alto. Estralo os fones para não ouvir vozes (e às vezes não basta!). A ansiedade me toma o controle e a postura de boa moça. Acendo um cigarro (nem sei por quê o tenho na bolsa). Dou um trago e tenho nojo do cigarro queimando entre os meus dedos (quem foi que inventou essa merda?).
Respiro profundamente. Tento não sentir, mas tenho repulsa da vida que vou encontrar adiante. É pouco depois do meio dia e eu peço uma cerveja na lanchonete, no entanto, queria mesmo uma dose de tequila ou vida, purinha, pra começar! Sinto náuseas das sobras de mim que sou obrigada a arrastar pelo caminho, mas não as deixo pra trás. Já deixei o meu coração, os meus risos, o meu brilho… Resta-me carregar a mala com as dores, as lágrimas, as decepções, os meios.
Por: Francielle Santos
(Foto: Reprodução / msexplorer)