
Sérgio era um homem de negócios. Um pouco mais de quarenta anos e ainda inquietava as moças do departamento quando passava, falava gentilmente, fazia perguntas certeiras e cheias de segundas intenções e sorria na recepção só para vê-las ruborizar e elas ruborizavam. Ele sabia o que fazia e parecia amar ser o assunto na boca delas quando ele entrava no elevador.
Mas tinha Fernanda que pouco se intimidava com a aquele pinta toda de homem de comercial de desodorante. Enquanto as colegas de trabalho tinham fogacho, ela fingia nem vê-lo e por vezes, não via mesmo. Houve encontros a sós na copa do departamento e nada. Pedidos de reservas das salas de reuniões e até busca por um documento que nunca existiu. Ela o tratava como se fosse uma das gerentes do andar e aquilo despertava interesse nele. Ele até passou a sair mais tarde do escritório só para descer com ela no elevador e aproveitar a deixa para puxar algum daqueles assuntos clichês de “tá frio hoje, neh?“; “vai chover amanhã!“… contudo, ela tão pouco se intimidava com a presença dele ou dava lhe papo, ao mesmo tempo que era impressionante gentil e educada e tinha uma voz sensual que ele sonhava em ouvir ao pé do ouvido.
Passado alguns meses Fernanda sumiu da recepção. Tinha pedido as contas e ele não se surpreendeu, ela tinha jeito de que voaria para muito mais alto. E voo mesmo, Fernanda agora estava a trabalhar em um belo hotel na cidade do Rio de Janeiro, foi quando ele finalmente colocou os olhos nela de novo, ainda mais iluminada do que se lembrava, com um vestido que acentuava-lhe as curvas ainda mais que os terninhos que usava antes, de cabelos soltos, pouca maquiagem, com aquela postura de mulherão que ele observava de longe.
Entre uma palestra e outra com os seus clientes, Sérgio pediu para falar com a organizadora do seu evento, precisava acertar alguns detalhes sobre o próximo período. E naquele momento, Fernanda entra na sala e fica frente a frente com ele. Ele surpreso e completamente admirado por onde ela tinha chegado, não deu voltas:
— Já nos conhecemos, não é?
— Sim, Sr. Ferreira. Trabalhei na sua empresa há alguns meses atrás. Como vai ?
— Me chame de Sérgio. Estou bem e feliz em vê-la novamente. Como é mesmo seu nome.?
— Fernanda. Em que posso lhe ajudar ?
Sérgio, pediu para que ela se sentasse na cadeira a sua frente, para ela repassar o briefing da tarde para ajustar uma coisa ou outra. Mas pouco prestou atenção no que ela realmente dizia, se perdeu entre a forma como os lábios dela pronunciavam as palavras, a forma como olhava nos olhos dele garantindo que ele estava a entender tudo e o jeito distraído que mexia nos cabelos, o levantar e baixar dos seios enquanto respirava.
— Sr. Ferreira. Quer dizer, Sérgio, podemos seguir assim? – pergunta Fernanda o tirando do transe.
— Sim. Está perfeito. Só tem uma coisa, tem algum meio de comunicação com você que eu possa ter para caso precise de algo imediatamente ?
— Ah claro! O senhor pode chamar no ramal do escritório, estarei por lá, assim como minha chefe para qualquer necessidade. – respondeu
— Sim, claro. Mas eu gostaria que fosse um meio mais discreto e mais rápido, o Whatsapp ? O que acha? – falou com um riso entre os lábios e um tom malicioso sutil.
Fernanda entendera o que estava acontecendo e fora a primeira vez que se sentiu intimidada por ele.
— Claro Sr. Ferreira. – escrevendo seu numero pessoal no cartão e entregando para ele.
Quando ela saiu da sala sentiu a excitação percorrer por todo o corpo. Foi direto para o banheiro dos funcionários e tentou não tirar conclusões precipitadas, era até comum os seus clientes terem seu numero para chamadas mais expressas. Assim que sentou no escritório, o celular vibrou. Era ele, solicitando expressamente sua presença na sala de reunião. Sentiu o coração bater mais forte, como se estivesse prestes a fazer algo proibido. Intuição, simplesmente intuição.
Quando chegou na frente da sala. Bateu na porta e foi entrando pedindo licença. Ele estava lá sentado digitando no notebook. Fez sinal para que esperasse um minuto. Levantou. Passou por ela. Trancando a porta atrás dele. Chegou perto dela o bastante para que ela sentisse o perfume da sua camisa e falou pausadamente:
—Desde que te vi, quando cheguei, não consigo parar de pensar em você. Lembrei de todas as vezes que você não me deu a minima quando ainda trabalhava para mim. Mas algo dentro de mim, diz que você me quer, tanto quanto eu quero você. Já olhei em cada canto dessa sala e reparei que não tem cameras. Não quero te prejudicar. Mas não consigo evitar pensar em como pode ser te tocar. Você me permite?
Ela estava tonta. Deu passos para trás como se precisasse de espaço para conseguir respirar. Estivera o tempo todo com os olhos fixos nos olhos dele enquanto ele pronunciava cada palavra e lhe roubara a capacidade de respirar e de sentir o coração bater regularmente, o mesmo que estava para sair pela boca.
— Sr. Ferreira. Sérgio, eu não.. não podemos. Eu estou no meu trabalho. O senhor é meu cliente. Não… – virando-se para sair antes que perdesse as forças. Sergio, a segurou pelo braço, fazendo com que ela sentisse o calor de suas mãos.
— Promete que vai pensar? – ela sentiu o corpo inteiro tremer e aquecer mais com o toque dele na pele dela, não respondeu e saiu da sala sem conseguir respirar direito.
Voltou para o escritório suando e tremendo. Não sabia como aquilo tinha acontecido e como estava mexida. Era a primeira vez que ela se sentia completamente tentada por ele, mas tinha tanto à perder. Sabia que era um erro, um equivoco, o tipo de loucura que só da certo nos filmes. Não colocaria aquele evento em risco, menos ainda o seu trabalho dos sonhos. E no meio desse turbilhão de pensamentos, o telefone do escritório toca. Era ele, pedindo cordialmente para revisar os itens do coquetel que seriam servidos de encerramento.
— Claro Sr. Ferreira, vou solicitar para o nosso maitre ir lhe apresentar o cardápio. – respondeu ela, ainda tentando recuperar a lucidez.
— Não, senhorita Fernanda. Eu gostaria que você mesma viesse. Peça um café expresso, por favor! – ordenou ele.
— Claro. Já estou indo. – respondeu ela com o tom que lhe condenava claramente.
Sérgio lhe aguardava na porta. Ela entrou rápido para ganhar espaço entre eles. Ele trancou a porta. Chegou bem perto. Tirou os papéis todos das mãos dela. Ela deu um passo para trás. Ele deu mais um passo a frente. Estava tão perto que ela podia sentir o calor do hálito dele.
— Se você disser que não quer. Eu esqueço que eu te quero agora mesmo. Diz que não me quer! – desafiando-a, como se já soubesse a resposta.
Fernanda precisou prender o ar para não perder a postura. A caneta que tinha nas mãos caiu. Com os olhos fixos nos deles queria dizer que não, mas não conseguia. E ainda que dissesse, seu corpo inteiro dizia exatamente o contrário. A sua pele estava queimando. Os lábios entre abertos tentando dizer que não e salivando por aquela boca, aquela voz, aquele cheiro, aquele corpo inteiro…
— Diz que não quer e você pode sair. – insistiu ele sem tirar os olhos da boca dela, cada vez mais perto.
E ela não respondeu… colocou a mão no pescoço dele e o beijou com toda a vontade que tinha no corpo inteiro. Ele não hesitou em trazê-la para ainda mais perto, tão perto que ela podia sentir o batimento do coração dele no seu peito. Ele a colocou em cima da mesa, empurrando toda aquelas coisas para trás e a beijou inteira como se a vida dependesse daquele instante. Já estava quase a tirar o vestido dela, ouviu o som de batidas na porta. E ele sem sair de cima dela, pediu para retornassem com o café ou o que quer que fosse mais tarde, pois estava em um call importante.
Com a lucidez e o medo correndo o corpo inteiro ela implorou para ele parar, pois podia perder o emprego se alguém desconfiasse. Ele ainda lhe tomou com mais um beijo fervoroso e parou.
— Promete que vai jantar comigo ainda hoje, volto para São Paulo amanhã cedo. Promete? – falou baixinho, ainda com as mãos na cintura dela, os olhos fixos na boca dela, sentindo o coração dela bater forte no peito.
— Prometo! – ela respondeu com um riso malicioso, ajeitando o vestido, o cabelo, correndo com os dedos nos lábios dele e saindo pela porta de emergência.
Por: Francielle Santos
(Foto: Reprodução / Pinterest)