
Eu não queria mais falar de você. Eu não queria mais ouvir falar de você. Apesar disso, só o que meu coração pulsava nas veias eram as tuas lembranças boas como oxigênio no meu sangue. Olhava em volta e só conseguia te vê nas cores que persistiram em resistir por aqui. Era o nosso arco-iris depois da tempestade a encantar o céu da minha vida.
Sorria de tanto que chorava e vice e versa. Considerei ser princípios de insanidade. Pensei que era o último estágio da saudade, quando na verdade, era o último estágio do amor.
Estava orando por você mais do que orei em toda a nossa vida. Agradecendo por você existir e ter existido por aqui. Te amando como nunca, porque só quem ama o outro, seja ele quem for, é capaz de fazer tais coisas. É o “move on” no seu modo mais puro.
Te amei ainda mais quando a ferida sarou. Olhei para a cicatriz com orgulho. Ela era outra marca de coragem, ousadia, humildade, fé e força na minha história. As cicatrizes existem para lembrar que vivemos! Uma prova de que venci o medo de andar de bicicleta sem rodinhas, de patinar na rua apesar da possibilidade de quebrar o nariz, de que mergulhei de cabeça numa onda alta mal sabendo nadar, que deixei arder a pele, que senti diferentes tipos de frios na nuca, na espinha dorsal, no tornozelo…
Além disso, as consequências. Porque não se trata mais sobre o que não deu certo, sobre as coisas que não combinaram, sobre as faltas. É sobre os aprendizados, o crescimento, as páginas que estavam em branco que foram escritas.
Um dia desses eu me peguei olhando para uma árvore gigante que tem pertinho de casa. Eram quase cinco da manhã, tinha sido uma noite chuvosa, o céu ainda estava carregado de nuvens e ela estava lá, forte, resistente, suportando as diferentes mudanças climáticas. Uma vez li que uma árvore cresce embaixo da terra tanto quando para fora dela.
É isso! O amor é como uma árvore que cresce dentro do peito da gente, tanto quanto cresce para fora dele. Vive as estações. Suporta as variações climáticas todas. A capacidade de permanecer mesmo depois do fim.
Percebi que eu não queria deixar de amar. Deixar de amar era o mesmo que arrancar uma árvore inteira da terra, arrancar um pedaço bem grande do meu coração. Te amo, porque amo ser capaz de amar!
E amando, olho nos teus olhos e agradeço-te pelos dias de verão, pelo calor entre as peles, pela descoberta da intensidade que me habita. Também agradeço pelos dessabores, desagrados, enfados… que foi como um outono a trocar as folhas. E também pelo inverno rigoroso que chegou com a sua partida. O sentimento de abandono, de solidão, de ter que aprender a me virar sozinha de novo provocou a necessidade de aprofundar ainda mais as minhas raízes – cresci inevitavelmente. Agora, vivo a melhor estação, a tão esperada primavera! As nossas melhores lembranças florescem e me enfeitam, a maturidade perfuma os meus passos adiante, a saudade de dividir os dias felizes lado a lado, iluminam o caminho para encontrar ou ser encontrada por um novo amor.
Te amo no último estágio, porque tu fostes uma raiz que me tornou maior, mais forte, mais capaz. Porque pertences a minha história. Linda. Dramática. Boba. Triste. Feliz. Amo, porque amar me faz feliz, permite-me ser o que verdadeiramente sou nas minhas funduras e alturas.
Por: Francielle Santos
(Foto: Reprodução / BreeAnna Lasher Photography)