
A cada viagem é como se eu estivesse conseguindo escapar do poço, estivesse correndo mata adentro em busca de uma vida nova depois da colina, para encontrar dias novos, pessoas novas, sensações novas… uma felicidade nova.
Pessoas normais desejam esquecer. Eu desejo ser esquecida pelas pessoas, ser invisível na memória como já me tornei em suas vidas (alcançar o alívio do julgamento e da expectativa delas que ninguém no mundo merece, nem mesmo uma pessoa como eu).
Desejo profundamente encontrar um lugar onde ninguém me conheça, nada eu conheça e recomeçar do zero a vida. Porém não quero abandonar a bagagem de tudo de ruim e de bom que vivi para não me perder de novo. No fim, entendi, não vale a pena esquecer os acontecimentos, porque se esqueço ainda que por mísero momento, tenho grandes chances de dar passos semelhantes aos antigos e errar igual ou pior.
“O que eu quero não tem nem nome” disse Clarice Lispector, e se eu a encontrasse eu diria, “Clarice, o que eu quero tem nome, tem cheiro, tem luz, tem força, tem fome, tem excitação, tem vida… eu só não sei como alcançar. Só não posso alcançar. E quando penso que estou a beira de alcançar, me escapa pelas mãos”. A maior perda na vida, são dos dias que você é absurdamente feliz escapando-lhe pelas mãos.
A verdade, é que eu não queria saber o nome do que eu quero. Saber, me impede de querer outros nomes, outras coisas, outros tipos de dias; e é isso que está me matando aos poucos, me distanciando da vida que me é servida e que eu a rejeito como uma mesquinha.
Perdi as contas de quantas vezes eu reclamei com Deus do porque eu não sou igual a todo mundo. Todo mundo que quis o simples, o básico, o óbvio. Eu sou incapaz de querer o óbvio! Tenho crises de pânico só de pensar. Porém, ser diferente me custa tudo. Tudo mesmo!
Há de se dizer que alguns viverão uma eterna incompletude. A sensação queimando na pele de quem está onde não se sente pertencer. Sob o esforço brutal de tentar, como um peixe fora d’água, a respirar na superfície para sobreviver. A resistir os dias e nunca realmente vivê-los. Em noites de insônia, em meio a delírios de febre emocional a 40 graus, viver a vida que amou (sonhou), mas não viveu e então acordar e morrer de novo.
Condenada a solidão eterna em vida, porque obviamente ninguém basta e se basta, eu não basto. A insatisfação diária dos dias nublados, mesmo quando tem sol no céu azul sem nuvens, areia quente, mar frio. A frustração a cada tentativa, mesmo quando totalmente nua, de ter orgasmos na vida. O olhar perdido a cada xícara de café ou taça de vinho tinto sentada em algum bistrô ou cafeteria qualquer dessa cidade. A desaparecer diante dos olhos de quem vê. A provar todo dia o definitivo fim, mesmo com o coração ainda batendo no peito.
Por: Francielle Santos
(Foto: Reprodução / As Cosy As Can Be)