
A inquietação, às urgências. A sensação de rebeldia. Atitudes e decisões sem a menor noção de responsabilidade. A vontade absurda de fazer imbecilidades, de subir pelas paredes todas. Crateras, digo, espinhas dolorosas aleatórias que nunca tive nascendo na minha pele (graças a Deus, que pelo menos são nas costas). Meu Deus, eu-estou-adolescendo, aborrecendo, enlouquecendo…
A terapia diz que eu tenho que olhar para a menina que eu fui com generosidade e amor. Acolher suas emoções e respostas. Reconhecê-la. Ouvir. Aceitá-la. Perdoa-lá com todo o coração apesar de tudo e…
(caro leitor, leia mais recomendações sobre como lidar com seu eu-adolescente em páginas sobre autoconhecimento e caso você seja um adolescente, não faça o que eu escrevo, porém, reconsidere a recomendação anterior!)
… entretanto, o que eu realmente tenho vontade de fazer é dar uns tapas na fuça dela pra vê se ela acorda. Pegá-la pelo braço. Sacudir. Olhar bem dentro do olho e dizer: “Sua filha da puta, por que não reage? REAGE PORRA! Protesta! Esperneia! Bate a porta. Cai no tapa com seu irmão, rola no chão – vocês vão fazer as pazes melhor do que nunca depois. Diz que NÃO! Aborta a missão de ser a filha mais velha que tem que bla-bla-bla… Dedica mais tempo e esforço as coisas que realmente você quer fazer (italiano e não o inglês; a música e não o cursinho de secretariado; o teatro e não a regência do grupo de louvor da igreja) insiste por essas coisas, briga com seus pais por elas se preciso. Pinta o cabelo de azul! Estoura o cartão de crédito da sua mãe comprando all-stars, o piano, livros e gibis da Mônica. Dá trabalho (porque dando ou não, dirão que você deu trabalho). Converse! Converse muito, na sala, na cozinha, no quarto. Compartilhe a sua opinião. Contrarie. Fala a verdade. Faça a sua verdade acontecer. Faça birra pra sair – por mais que seja vencida e fique em casa. Chora. Chora alto. Chora agudo. Chora até secar todas as lágrimas. Vai no show do James Blunt, Jason Mraz, NX Zero, Nando Reis, Caetano Veloso, Ana Carolina… Saí escondido. Beija no portão da escola, no carro estacionado na frente do portão de casa. Recebe o garoto mais bonito do 3ºano B em casa quando todos saírem. Viaja com as amigas. Dorme na casa das amigas. Abrace sempre e bem apertado! (principalmente o seu pai, a sua mãe e o seu irmão). Se deixe abraçar. Se deixe mimar. Se deixe pirraçar. Não leve quase nada a sério. Perdoa as pessoas que mais ama no mundo (e as demais também) no mesmo dia e se possível, dentro da mesma hora! Pelo amor de Deus, pede ajuda! Não importa o que dê errado: PEÇA AJUDA. Se deixe bagunçar. Aliás, bagunce tudo, o quarto; os armários; as gavetas todas; a vida. Deixe bagunçado por um tempo – você tem talento para organização, na hora certa tu ajeita tudo num zás-trás. Foge para Bertioga, Mongaguá, São vicente, para casa da sua melhor amiga. Fale bobagens. Faça sacanagens. Passe vergonha (muita). Corre, se joga e mergulhe com tudo no mar, nos relacionamentos que importam – se afogue para aprender a nadar. Namore o surfista mais velho todo tatuado (se tiver que assumir alguém para o seu pai, que seja esse), confronte as convenções, o conveniente. Vá lutar Boxe. Tire muitas fotos. Grave vídeos estúpidos. Tenha coragem de se mostrar – não desista do Blog. Peça o patins para a sua mãe e o skate para o seu pai de presente de Natal – você se amarra na adrenalina. Se permita cair para aprender a cair e a levantar melhor a cada nova tentativa (serão muitos tombos, então comece por aí). Rali os joelhos, os cotovelos, se permita ter hematomas, caia, caia, caia, caia…
e não desisti de ter um gatinho siamês, apesar do teu pai.
Por: Francielle Santos
(Foto: Reprodução / Kara Michelle)