chuva

estive dias incontáveis sem falar. sem conseguir escrever coisas indizíveis. me senti abandonada pelos meus discursos todos. tudo o que tinha me sobrado (palavras) pareciam fugir de mim. se perder dentro da imensidão da minha dor. letra a letra afogando-se no oceano de lágrimas. as lágrimas que também não vinham. não se permitiam sair.

dias inteiros. noites longas. e então choveu.

quinta-feira passada. precisei sair – literalmente obrigada. e quando precisei voltar pra casa – também literalmente obrigada, fiz uma pausa. parei na padaria, pensei em pedir um cappuccino, porém pedi cerveja. a moça me encarou com um olhar julgador. deve ter pensado:”ainda nem é sexta e nem passa das 18h” (coisa de paulista que tem dia e hora até para beber uma cerveja desobrigado). mas eu nem liguei. queria voltar pra casa (minha casa). qualquer vestígio que vivificasse as memórias e sensações me bastavam. quando fui pagar a conta, já saindo. a nuvem carregada que escurecia o céu, descarregou. pensei em pedir um Uber, mas é como dizem: “quem está na chuva é para se molhar“. deixei-me molhar.

caminhei até em casa pouco apressada. ainda no meio do caminho, parei na farmácia e comprei remédios para gripe. talvez, eu esteja me tornando um pouco hipocondríaca ou prevenida demais – que julguem! e a chuva ficando ainda mais forte.

só quando comecei a descer a rua de casa é que me dei conta: estava chorando, descaradamente! a garganta estava embargada. percebi a minha respiração falhar como se estivesse correndo sem respirar direito. toquei com os meus dedos no meu rosto e sentir as lágrimas quentes se misturando com as gotas frias da chuva. pensei: “que cérebro sacana esse meu, deve ter aproveitado a oportunidade de camuflar tal tristeza, como normalmente faz debaixo do chuveiro“. sorte a minha que a casa é no final da rua. distância suficiente para ser chuvarada.

Por: Francielle Santos

(Foto: Reprodução / Wattpad)