há coisas que destroem. há momentos que destroem. há dias inteiros que destroem. há decisões que destroem. há faltas que destroem. há pessoas que destroem (principalmente as que amamos mais).
não dá para saber exatamente como vai acontecer, o porquê, com quem. mas acontece e na maior parte das vezes nos pega desprevenido; de calça curta; dia de sol que tem tempestade e você está sem guarda-chuva e até sem agasalho; a luz quando acaba em um dia frio de agosto em Curitiba e você está ensaboando o cabelo com shampoo.
percebo os meus pedacinhos no chão. cacos que cortam os meus pés enquanto caminho entre eles, a medida que tento juntar partes que ainda sirvam para me recompor. na maioria das vezes eu falho miseravelmente.
encontro feridas na minha pele que nem sei como aconteceram. não lembro o momento, como e quem as fez. temo descobrir que eu mesma as tenho feito em algum instante entre a ilusão e a perda de sanidade – que acontecem quando a dor ultrapassa o que é descritível, ainda assim nunca insensível.
por vezes sinto tudo. e a ciência ainda não criou uma anestesia geral capaz de sedar tamanha laceração.
outras vezes não sinto nada. penso, que é a minha parva e chula maneira de ser cientista e anestesiar-me.
todas as manhãs conto as pílulas coloridas para manter o corpo acordado e a mente lúcida. todas as noites outro punhado para fazê-los dormir. não acredito muito na eficácia, mas os empurro goela abaixo.
quando penso na precisão do tempo chamado hoje/agora/presente assusto-me. como posso nem ter chegado aos trinta e já viver como se tivesse noventa?
estou envelhecendo um ano inteiro em um único dia, todos os dias e não sei como desacelerar o fim que já bate a porta.
Por: Francielle Santos
(Foto: Reprodução / Topbuzz)
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