
como encontrar um jeito de dizer adeus?
reviro anotações. folheio cadernos, livros, dicionários. me ponho do avesso e não encontro uma combinação de sílabas sequer que eu possa recitar.
há meses me preparo para partir. dessa vez uma ida sem volta. reservei um dia para sentar e escrever as cartas, os bilhetes e e-mails. mas adio, adio, adio… pois nunca tenho palavras boas o suficiente para fazer isso.
percebo agora a maestria da morte quando chega. ela não permite tempo para dizer o que quer tenha que ser dito. ela é sorrateira. chega sem avisar e fim, porque no fim, não há palavras boas para se despedir.
planejo o meu fim como se planejasse um fim de semana em Bertioga. porém, a verdade mesmo é que todos os fins de semana que desci à Bertioga eu nunca planejei. acordava às quatro da manhã e saía. percebo agora a ironia de planejar escrever para me despedir. se nunca consegui planejar um fim de semana com antecedência, olhe lá, planejar para escrever para pôr um fim.
eu quero ser capaz de escrever o último texto. o último e-mail para a minha querida amiga Ari. a última carta para os meus pais. o último bilhete para o meu irmão. a última mensagem para o amor da minha vida. nessa altura, já não busco as palavras mais eloquentes, os sinônimos mais poéticos. basta-me a capacidade de ser óbvia, de usar as palavras simples, surradas, clichês.
temo deixar coisas por dizer. temo não ser capaz de explicar o suficiente para que entendam e aceitem a minha decisão. temo ter palavras para tudo, menos para dizer: ad(amo)e(vocês)us!
Por: Francielle Santos
(Foto: Reprodução / Pinterest)