dor

sinto dores em lugares que nem pensei que podia sentir alguma coisa.

a dor que me apequena, lembra-me como sou vulnerável, sensível, reduzi-me a nada. a dor na qual em grau nenhum posso fazer alguma coisa, a não ser sentir.

a dor que fica e apresenta-me. a dor que destrói e refaz cada uma das minhas percepções do todo. que obriga encarar tudo com um olhar mais cruel, severo e inflexível.

sempre quando penso em dor e a sinto assim, acabando comigo, lembro-me do meu avô – sr. Zé de Pedro (como era conhecido), viveu 89 anos sem reclamar de dor alguma (pelo menos é o que conta as pessoas), mas nos últimos três meses de vida quando o câncer se manifestou, o consumiu rapidamente e o levou, ele sentiu o que talvez em toda a sua vida não tinha sentido: dor, dor, dor. ele era um homem de fibra, conservador demais, se recusou ir ao hospital ou ser medicado. e eu me pergunto até hoje, anos depois: por que tinha que ser assim, com tanta dor?

me dou conta que às vezes, a gente se recusa a anestesia, ainda que ela seja paliativa, ainda que ela promova um breve alívio. a dor chega e você quer sentir por alguma razão, por mais absurda que seja essa constatação. o problema da dor, é que ela precisa ser sentida, disse John Green.

a dor precisa ser sentida: como suportá-la? como superá-la? como cicatrizá-la?

a dor que me recuso ignorar. a dor que não posso evitar. a dor que me silencia de todas as formas possíveis. a dor que torna-me em alguém que não reconheço na frente do espelho, mas ainda assim me é familiar.

a dor que rouba-me a sanidade, a capacidade de sorrir, de contar, de dividir.

a dor que torna-me em dor.

Por: Francielle Santos

(Foto: Reprodução / Luxe Provence)

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