
Eu cansei! Eu cansei de orbitar o meu caos, a minha dor, as minhas mazelas.
Ninguém merece viver na tristeza tanto tempo. Ninguém merece viver na prisão do próprio sofrimento.
Eu cansei de repetir as mesmas palavras todos os dias. Eu cansei de chorar as mesmas lágrimas todas as noites. Eu não posso mais fazer de conta. Eu não posso mais dizer que sim, quando tudo diz que não, e tão pouco posso dizer que não, quando tudo em mim diz que sim.
Eu não posso mais dar os meus passos, sorrir os meus risos, fazer as mesmas as coisas todos os dias como se elas me fizessem feliz ou não me machucassem.
Eu não posso mais encenar uma vida que não é minha. Eu não posso mais assumir os riscos das probabilidades da vida de areia que se constrói a cada movimento em falso.
Prevejo ondas a vir em minha direção a desmanchar e a levar cada misero grão de areia de tudo que se formou, mas nada é de verdade. Consequências e eu, já não duvido que são.
Por tantos dias, semanas, meses eu fui, mas não era de fato… eu fiz, mas não sentia nada… eu quis, mas em nada houve encantos. Tudo é ou está, por momento, acinzentado. Por coisas das quais pouco passei a me importar, deixei de existir.
Quantas mortes pode haver em uma única vida? Perguntei para as paredes, que se mantiveram petrificadas, é claro, honrando a razão de ser – mortas. Porquanto não insisti. Já havia perdido as contas, que diferença haveria de ter saber um único número?
Pouco a pouco, fui desaparecendo do que julguei ser eu. Ainda tinham luzes fortes do sol do meio dia. Ainda tinham pessoas batendo na porta. Contudo, naquele breve instante em que pareceu ser uma longa eternidade dentro de um minuto, eu soube, eu já tinha partido.
O que sobra, sempre é a carne, os ossos, as batidas automáticas do coração – que eu consultei por teimosia, com os dedos no pulso esquerdo. Batidas fracas, mais ainda estavam lá. A vida, pulsando.
Não voltei a ser o que eu fingia ser. Foi como um grande apagão de existência. Por mais que eu conhecesse as falas de co, as marcações exatas no palco da vida que eu tinha orquestrado como uma atriz de teatro, que depois de infinitas apresentações vive a sua personagem na integra, mais do que a si mesma.
Aquela eu havia me abandonado ou apenas encerrado a sua apresentação final. Por alguma razão estranha ou óbvia, esperei por flores lançadas no palco ou flores ao redor do meu corpo petrificado. Não houve flores, apenas o cheiro delas ou era cheiro de dipirona para a febre de 40º graus. No ápice da alucinação tudo fez sentido – no final, há sempre flores!
Por: Francielle Santos
(Foto: Reprodução / Deviant Art)