
Talvez, seja o momento de fazermos algo certo por nós mesmos, antes mesmo de qualquer outra coisa ou pessoa.
Tem que ter muita coragem pra deixar pra lá… o que quer que seja que tenhamos que deixar pra lá.
Tem que ter muita força de vontade para seguir em frente ou apenas virar a próxima à direita sem tantas partes de nós, que ficarão, fatalmente, com as pessoas, coisas, lugares, memórias… seguir sem uma porção de prazeres, sonhos, alegrias. Fazer as malas somente com o essencial e se dar conta, que o essencial cabe mesmo em apenas uma mochila.
Separar. Organizar. Descartar. Uma série de situações que fazem de quem somos hoje, quem somos. Se despedir, antes mesmo de tudo e todos, de uma boa parte de si mesmo na frente do espelho. É como revirar o guarda-roupa e encontrar peças antigas que não serve mais no corpo atual; encarar as varias faces de si e se despedir, deixar…
Há de ser também o momento, de deixar até mesmo as malas prontas há tanto tempo para trás. De cortar os vínculos que fazem sangrar os pulsos. Quebrar as correntes que desaceleram a caminhada. Quiça, escolher atravessar por um novo mapa!
Ah, como somos apegados aos espinhos, a dor, as lágrimas… Há de ser também o momento de trocar os curativos todos, quem sabe, até deixar as feridas respirarem. É conselho de vó: “não abafar as feridas e deixar o próprio corpo fecha-las, questão de tempo” (como não lembrei disso antes?). É questão de dar tempo para si mesmo.
Temos a mania de esconder nossas feridas, abafá-las para que ninguém veja. Vergonha. Sempre a merda da vergonha! Percebo, é a vergonha que nos condena, sequestra-nos da vida. É tempo de trazer a tona, vasculhar, tocar, pressionar e descobrir tudo o que dói (confessar-se, se preciso), para alcançar a liberdade.
Talvez, seja o momento de fazer algo certo por nós. Tempo de cuidar de nós mesmos melhor do que em qualquer outro tempo. Só assim, poderemos cuidar também do outro, do mundo.
Por: Francielle Santos
(Foto: Reprodução / Kathryn Hallie)