sobre um fim

— Era para termos insistido um pouco mais. – disse ele, despedindo-se pela terceira vez depois de encontrá-la por acaso naquele café.

Ela não era qualquer lembrança, qualquer saudade, qualquer remorso. Ela era mais em tudo o que ele sentia. E sempre fora assim, desde à primeira vez que ele a havia encontrado entre os novos amigos. Ela despertara coisas mais intensas, questões mais profundas. Aquele café, também não era qualquer café. Tinha se tornado um lugar regado de memórias deles. Pausas agitadas de terça-feira, fins de tarde quentes de sexta; manhãs tranquilas de domingo que compartilhavam juntos, em encontros casuais que se tornaram com o tempo os melhores compromissos marcados na agenda.

— Tem razão. – ela respondeu, virando-se e olhando daquele jeito furtivo nos olhos dele. Ele não respondeu de imediato, sentiu um nó na garganta daqueles que sufocava qualquer palavra. Também queria ouvi-la mais, ainda que soubesse que o que ela pudesse dizer fosse ser capaz de atingi-lo como um soco forte no estômago. – Mas você não pediu para eu ficar. – ela sorriu daquele jeito doce, o riso que era capaz de abraçar a alma e a dele abraçava e saiu.

Ela tinha razão. Ele nunca tivera coragem de pedir à ela para ficar. Ele sabia e dentre as coisas que se arrependia, fora por ter sido covarde com ela. Era um tipo de covardia não seguir a diante, não era? Ele se perguntava. Não tentar mais. Não se permitir arriscar. Não abrir o coração por completo. Não se entregar, ainda que um monte de coisas, porque sempre há um monte de coisas.

Com todos os sentimentos a flor da pele ele recuou. Na noite em que ela decidiu que não dava mais, porque precisava sentir mais, ele sentiu um tremor e viu um tipo de abismo surgir no meio do peito. A sensação de impotência diante das decisões que precisava tomar. Não houvera palavras erradas, brigas, voz alta. Ela se despediu com a mesma doçura que o recebeu quando se conheceram. O abraço quente e apertado. O beijo doce em que ela se entregava todinha. O sorriso de quem parecia só ir ali na padaria… e que foi para longe, longe demais.

Naquela mesma noite ele pegou o telefone e considerou ligar para ela infinitas vezes, dizer as coisas que não sabia como dizer, mas que precisavam ser ditas; pegou as chaves do carro e pensou em ir atrás dela, bater na porta, fazer um escândalo até que ela ouvisse e voltasse para os seus braços, todavia, não conseguiu.

Às vezes, a gente não consegue fazer o que tem que ser feito. Talvez, forças do universo nos prenda no chão e não nos deixa mudar as coisas que pensamos que devemos mudar. Talvez, a certeza de que é tarde demais nos convença a deixar como está. E ele deixou. Depois de lutar consigo mesmo por horas, caiu no sono do jeito que estava no sofá. No dia seguinte, tudo pareceu certo como estava. E ele aceitou.

Por: Francielle Santos

(Foto: Reprodução / Birty Boots and Messy Hair)

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