encontrei conforto na dor

Passou-se dias e eu não podia mais me evitar. Tão pouco ignorar todas essas lembranças que rementem aos dias em que a vida fez algum tipo de sentido. Não chorei. Não gritei. Não escrevi. Apenas sangrei, de um jeito estranho, novo, silencioso demais.

Quando desconfio de tudo. Quando penalizo-me por uma quantidade absurda de erros, que nem nos meus dias mais rebeldes considerei ser capaz de cometê-los. Quando sinto saudade, exclusivamente, de mim e das sensações eletrizantes que percorreram o meu corpo, a minha mente e o meu coração, já não sou capaz de tentar escondê-los. Já não sou mais a atriz que fui um dia. (É Globo, você não perdeu nadinha!)

Sento-me em algum lugar na vida, assisto as camadas de pele caírem aos meus pés. Lagrimas inquietam-se nos olhos como quem corta cebolas. Finalmente entendo porque cortar cebolas faz chorar. Nada faço. Não há mais nada à fazer.

É no silêncio que se encontra um certo tipo de conforto. Mesmo quando há um barulho insuportável nele. Sei que estou ali, aos berros. Sinto a queimação nas minhas cordas vocálicas. Sei que vou ficar sem voz por uns dias. Sei que meu o silêncio do lado de fora vai incomodar os meus, mesmo que sem querer. Dói. Mas sinto um certo conforto na dor. Antes sentir dor, do que não sentir coisa nenhuma. É como convenço-me, como um sopro de razão.

Há coisas demais para engolir. É uma tremenda ignorância da vida obrigar-nos a cuspir moscas e engolir elefantes. Para quem inventou esse ditado, meu sutil e educado: vá tomar no cu! Não quero cuspir moscas, porque sequer quero engoli-las, e quanto aos elefantes, ora, são desnecessários. Se todos entendêssemos isso, viveríamos um pouco menos entalados.

Qualquer dia, tudo isso há de te matar“, ouço uma voz me alertar. Talvez aconteça. Enquanto isso, não grito para fora. Rabisco uma coisa ou outra por aí. As vezes, é como silenciar outras coisas mais penosas de se confessar.

Por: Francielle Santos

(Foto: Reprodução / Wezza)

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