lembro

lembro, de não conseguir entender o que estava acontecendo. lembro, de não conseguir enxergar os cacos de vidro que furaram os meus pés, que estavam sempre descalços por aí (reclamava a minha mãe). lembro, de não conseguir respirar.

lembro, de achar que era só outra tempestade. talvez, um furacão. lembro, de lá no fundo, ter uma certeza agarrada a minha fé, de que fosse o que fosse o que viesse adiante, eu daria um jeito de ficar bem. lembro, de sentir essa fé diminuir com os dias.

os dias….

o silêncio. a desconexão. o desassossego.

nada mais era como antes e mesmo assim, insistiam para eu ser.

dor

lembro, de desistir. às vezes, a gente desisti sem perceber, outras vezes, percebendo também. lembro, de sentir uma dor ainda mais profunda quando percebi. uma vez, li que há cinco níveis de dor, aquela foi a minha número cinco. meu coração já tinha entrado em colapso.

lembro, de senti tanta saudade de mim (ainda sinto). entretanto, lembro de também querer voltar no tempo e me dar uma surra, daquelas que davam no tempo do meu avô. nada disso era possível. nada disso adiantaria, reconhecia.

sangrando ou não, tudo é como tem que ser, para que sejamos quem somos, verdadeiramente.

lembro, de não conseguir levantar e não levantei, até que o meu corpo também não levantou mais sozinho. então, veio a dor número seis. ainda não comprovada cientificamente e insuportável demais para descrever.

ainda sinto saudade dos dias que eu mal sabia o que era sentir dor. mas quem não sentiria? ainda sinto saudades de quando eu conseguia levantar e quando não, era por pura preguiça, daquelas que a gente parece um gatinho se espreguiçado e se enrolando nos lençóis.

há dias, que o sangue estanca. há dias, que ignoro. há dias, que leio para silenciar o barulho que tudo faz. há dias, que escrevo para não sufocar. há dias, que mal sei falar. há dias …

e me disseram: “você precisa se conformar – That’s life!“. e eu ainda não desaprendi a mandar eles todos irem à merda! (mentalmente, é claro!)

afinal, se conformar não é um tipo de morte?

e às vezes, a gente se olha no espelho e pensa em se conformar

Por: Francielle Santos

(Foto: Ariana R Cherry)

2 comentários em “lembro

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