
Autor: Paulo Leminski
Ano: 2014
Gênero: Poesia
objeto
do meu mais desesperado desejo
não seja aquilo
por quem ardo e não vejo
seja a estrela que me beija
oriente que me reja
azul amor beleza
faça qualquer coisa
mas pelo amor de deus
ou de nós dois
seja
página 47
Antes de muito dizer, preciso confessar que eu nunca fui de poesia e poemas. Um reflexo disso se deu pela minha insatisfação nas aulas de português quando ainda era menina. Por mais que eu tenha tido sempre um boletim exemplar e de ser, relativamente boa em redação e gostar de escrever o tempo todo, estudar português e interpretar ou escrever poesias e poemas sempre foi um grande desafio. Nunca fui boa com rimas. Nunca fui boa em decorar as regras gramaticais e os ditados orais de conjugação de verbo, era um verdadeiro pesadelo! (para os curiosos de plantão – na primeira infância eu era apaixonada por artes // ainda sou; na segunda, eu era a apaixonada por equações e diziam, que eu seria uma ótima professora de matemática – ah, as peças que a vida nos prega!).
Lembranças a parte, não faz muito tempo que ganhei um livro pra lá de inquietante. Por não ter boas relações com a poesias e poemas antes, eu nunca fui de comprar livros desse gênero. Ganhar um livro de um autor tão referencial na poesia, foi uma experiência fascinante e que me deu a oportunidade de ter um novo olhar para esse tipo tão terno e puro de se expressar.
nascemos em poemas diversos
destino quis que a gente se achasse
na mesma estrofe e na mesma classe
no mesmo verso e na mesma frase
rima à primeira vista nos vimos
trocamos nossos sinônimos
olhares não mais anônimos
nesta altura da leitura
nas mesmas pistas
mistas a minha a tua a nossa linha
página 104
Quem foi Paulo Leminski?
Paulo Leminski Filho – conhecido como o “samurai malandro“, foi escritor, poeta, crítico literário, tradutor e professor brasileiro. Nasceu em Curitiba, em 24 de Agosto de 1944, casou-se duas vezes e teve três filhos. Foi faixa preta de judô e muito influenciado pela cultura japonesa – escrevia com referência da forma do haicai, que significa “hai = brincadeira, gracejo e kai = harmonia, realização”. Também compôs musicas em parceria com Caetano Veloso e o grupo A Cor do Som . Faleceu em 1989, em Curitiba.

a impressão do teu corpo no meu mexeu
Página 144
A poesia de Paulo Leminski promove com inteligência e sensibilidade o encontro de muitos contrários: o rigor e a emoção, a erudição e a leveza, a vanguarda e o pop. A escrita é irreverente. Há quem diga que o jeito próprio dele escrever com trocadilhos, brincadeiras, ditados populares, além de abusar das gírias e palavrões – reinventou a escrita da poesia. O autor praticou ao longo de sua vida uma relação de amor e ódio com os leitores e críticos, ao tentar harmonizar a rigidez da construção formal e o mais puro coloquialismo. Há quem diga também, que ele era uma força da natureza. Era mestre do lapidar e da astúcia.
Toda Poesia é antes de tudo, uma vida inteira de poesia. Uma vida totalmente dedicada ao fazer poético. Curta, é verdade, mas intensa, profícua e original, retrata Alice Ruiz S, na apresentação da obra. Ela também nos conta que um dos primeiros poemas do Paulo, talvez mesmo o primeiro, foi escrito em latim, na segunda infância – inicio que deixou fortes raízes. Esta obra reúne pela primeira vez toda a poesia já publicada do autor. Clássicos como Caprichos & relaxos; Distraídos venceremos e La vie en close, além de títulos raros como Quarenta clics em Curitiba.
Ler esta obra, é se permitir tocar em algumas feridas, revirar algumas gavetas, atravessar algumas histórias pessoais através da fluidez que só a poesia é capaz de proporcionar, acordar para coisas como se levássemos alguns puxões de orelha de Paulo. Também, é aprender não só como ele fez, mas como (re)inventar a escrita – a arte, com ousadia e coragem.
Parece que foi ontem,
Tudo parecia alguma coisa.
O dia parecia noite.
E o vinho parecia rosas.
Até parece mentira,
tudo parece alguma coisa.
O tempo parecia pouco,
e a gente se parecia muito.
A dor, sobretudo,
parecia prazer.
Parecer era tudo
que as coisas sabiam fazer.
O próximo, eu mesmo.
Tão fácil ser semelhante,
quando eu tinha um espelho.
Mas vice-versa e vide a vida.
Nada se parece com nada.
A fita não coincide.
Com a tragédia encenada.
Parece que foi ontem.
O resto, as próprias coisas contem.
Página 207
Leia poesia. Escreva poesia. Faça poesia.
tudo sucede súbito
eu não faço
expludo
Página 143
Por: Francielle Santos
(Foto da Capa: Reprodução / Amazon)
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