a marca de uma lágrima

Autor: Pedro Bandeira

Ano: 1985

Gênero: Romance

Seremos dois novos amantes

pelo amor energizados,

transformados,

mas em quê?

Quem eras antes de mim?

Quem sou depois de você?

Página 22

Foi aqui, nas páginas da 1º versão do livro de Pedro Bandeira, que eu descobri o que viria a ser a minha mais duradoura paixão! A marca de uma lágrima foi o meu primeiro amor (o primeiro livro ou primeiro personagem – Cristiano, que mais tarde viria a ser Fernando, por qual/quem me apaixonei perdidamente).

Só quando fui para na 5º série e mudei de escola, que passei a frequentar uma biblioteca. De escola pública, pequena, nada muito luxuoso e a maioria dos livros já muito usados, alguns em mal estado. Se não me falha a memória, foi a primeira biblioteca que estive. Lembro, que ela ficava aberta na hora do intervalo e era o nosso momento de ir até lá sem que fosse para seguir alguma orientação para algum trabalho. Como contei em Toda Poesia, eu não gostava muito de português, mas se teve uma coisa particular que eu amava era poder ir a biblioteca. Eu fui a tipica aluna “quase nerd”, representante de sala, que tinha o respeito dos alunos nerds e dos que jogavam cadeira pro alto, que não se socializava a custo de coisas comuns (roupa, maquiagem, garotos, festas…) e que passava a maioria dos intervalos na biblioteca.

Não lembro exatamente quando encontrei Pedro Bandeira ou o porque eu quis levá-lo para casa. Não lembro se chorei alguma vez, nas primeiras vezes que li ou se quis muito ser como Isabel (a protagonista), que se apaixona perdidamente e se entrega aos conflitos que as paixões podem promover. Apenas sei, que eu me sentia em casa.

No meu seio serás meu

para o uso que eu quiser,

Nos teus braços me abandono,

ao teu lado sou mulher…

Página 22

O que aconteceu foi curioso, por alguns meses seguidos o livro ficou só comigo. Tínhamos que devolver o livro no prazo de uma semana ou renovar a locação. Eu passeia renovar e renovei por muitas e muitas semanas seguidas. Ele ia e voltava comigo da escola e às vezes, ele me fazia companhia na mesa na sala ou descia comigo e minhas amigas para o intervalo. Eu lia e relia ao ponto que quase decorei todas as frases – penso, que naquele primeiro ano eu poderia recitá-lo de co.

Minha melhor amiga me questionava o que tanto eu gostava no livro para não largá-lo, eu nunca soube bem o que dizer. Lembro do dia que estávamos sentadas no intervalo e ela me encarou por uns minutos e encontrou um risco no meu rosto (uma sombra na minha pele), que descia do olho esquerdo pela bochecha e rindo disse: “amiga, de tanto que você lê esse livro, agora você tem uma marca de uma lágrima no rosto!“. Eu corri para o banheiro para olhar no espelho, e lá estava ela, como se a água salgada de uma lágrima houvesse queimado a minha pele, por mais que eu não tivesse a lembrança de ter chorado ou de chorar.

Ah, tormento que eu não posso confessar…

O que escrevo é a verdade, eu não minto,

eu declaro tudo aquilo que eu sinto,

e é a outra que teus lábios vão beijar…

Sei que quanto mais verdade tem no escrito,

mais distante eu te ponho dos meus braços,

pois desenho o paralelo de dois traços

que na certa vão perder-se no infinito…

Estes versos feitos pra te emocionar

justificam todo o amor que tens por ela

e as carícias que esses dois amantes trocam.

E eu te excito, sem que venhas a notar

que esse lábios que tu beijas são os dela,

mas são as minhas palavras que te tocam…

Página 46,47

Cheguei a tentar a política do desapego. Devolvia ele na biblioteca, pegava outro romance na sessão de infanto juvenil; lia sobre outros temas; gibis da Monica; autores mais aclamados como as obras de Jane Austen, mas sempre voltava para ele. Foram oito anos frequentando a biblioteca, quase sempre pelo mesmo motivo. Quando finalmente conclui o ensino médio, tentei negociar com o bibliotecário a possibilidade de comprá-lo ou trocar por outros livros que tinha em casa, mas não consegui por questões burocráticas.

Quando ganhei autonomia (estava com 14 anos) e comecei a sair sozinha, estive em livrarias e as edições que achava não eram a mesma – e eu sempre muito teimosa, só queria se fosse com aquela capa, aquela figuras, aquela edição. Procurei em alguns sebos e nada. Em 2017, um grande amigo que sabia da minha obsessão encontrou a edição, comprou, escreveu uma linda dedicatória e me entregou pessoalmente – de todos os livros que ganhei, este é o mais especial!

Se esse amor me modifica,

me transforma, me edifica,

se ele afeta tanto a mim,

também te transformará.

A energia desse amor

afetou-nos para sempre,

e a matéria que hoje somos

outra matéria será…

Página 21

A marca de uma lágrima conta história de Isabel, uma garota brilhante, de quatorze anos, mas que vive um conflito diário com o espelho e seus imparciais julgamentos sobre si mesma. Ela se apaixona perdidamente por seu primo Cristiano. Ele por sua vez se apaixona pela melhor amiga de Isabel, a Rosana. Ele e Rosana não sabem como se expressar ou confessar os seus sentimentos de uma forma “inteligente” ou poética. E é para Isabel que ambos pedem ajuda para se declararem um para o outro através de cartas em segredo.

Isabel, começa a confessar o seu amor por Cristiano nos poemas que escreve para ele e para Rosana. Anseia que ele se dê conta de que é ela quem ele esta amando através dos seus versos, porém, acaba entregando ele completamente nas mãos da amiga, pois quanto mais ela escreve por eles revelando os seus profundos sentimentos, mais Cristiano e Rosana se apaixonam um pelo outro.

Fernando, amigo de Cristiano e que também estuda na mesma escola, tenta se aproximar de Isabel. Ela que fica cada vez mais frustrada e deprimida, é sempre direta, curta e grossa com ele.

Um certo dia, ela acaba sendo testemunha do suicídio da diretora da escola e é ai que perde todo o controle. Sob muita carga emocional, cansada de tantas mentiras e de não se sentir amada, escreve a última carta, deixa debaixo da porta da casa de Cristiano, considera acabar com todo aquele sofrimento, mas na verdade é vitima de um homicídio, tal como a diretora.

E o meu amado o que diria se eu partisse?

O que diria se estes versos não ouvisse?

O que teria em suas mãos

senão um corpo dessangrado,

cheio de carne, de suspiros,

de delírio apaixonado?

Faltaria, porém, o recheio das idéias,

a loucura e a razão,

que transformam um encontro sem graça

em tremenda paixão!

Mas não tema o meu querido

que esse amor desapareça,

pois ele é amado ao mesmo tempo

por um corpo e uma cabeça.

O corpo ele pode beijar, cheirar,

fazer do corpo mulher.

Mas a cabeça o possui, manipula,

e faz dele o que quer!

Haja o que houver, do meu amor

esse garoto foi o rei.

Digam a ele que com corpo e cabeça

eu sempre o amarei.

A marca desta lágrima testemunha

que eu amei perdidamente.

Em suas mãos depositei a minha vida

e me entreguei completamente.

Assinei com minhas lágrimas

cada verso que lhe dei,

como se fossem confetes

de um carnaval que não brinquei.

Mas a cabeça apaixonada delirou,

foi farsante, vigarista, mascarada,

foi amante, entregando-lhe outra amada,

foi covarde que amando nunca amou!

Página 91

De volta a sua casa, Isabel entra em delírio das substâncias que ingere, acaba confessando sobre o seu profundo amor por Cristiano e falando demais sobre as suas próprias conclusões sobre o suposto suicídio da diretora para algumas pessoas que estiveram presentes na hora do caos e que correram para socorrê-la.

Só quando finalmente está no hospital, que ela não só desvenda o caso da diretora, como descobre por quem esteve apaixonada por todo o tempo.

Antes de ti, Cristiano,

eu nem sabia sequer,

fui metade de mim mesma,

fui pedaço de mulher…

Página 56

Por: Francielle Santos

Ps.: me deixem saber qual o primeiro livro que mais mexeu com você .

3 comentários em “a marca de uma lágrima

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