
pra quem me conhece há muito tempo sabe que eu sou apegada as datas. sempre fui a filha que não deixava passar um aniversário, um dia especial, sempre lembrava o meu pai das datas importantes pra minha mãe e por muitos anos eu fazia muita questão dos presentes de Natal. mas como nada é só flores, eu sempre tive uma certa negligência com o meu próprio aniversário.
só há alguns anos atrás, quando comecei a fazer terapia e cutucar umas feridas, conseguir encontrar umas respostas que “justifiquem” isso. mas ainda é um saco, não nego!
uma vez li em algum lugar, que só alguém que é muito mal humorado para não gostar de comemorar o próprio aniversário ou não gostar de churrasco ou de feijoada ou de pagode. não gosto das quatro coisas, isso deve me tornar alguém mal humorada acima da média, porém não ligo! esses últimos anos também me ensinaram, que apesar dos nossos maiores “defeitos” ou “desafetos”, não dá pra ser quem a gente não é só pra agradar quem quer que seja.
também existe um traço forte de sangue. meu pai nunca faz questão dessas coisas (balões, bolo, brigadeiro e pessoas em volta da mesa cantando “é pic, é pic, é pic, é pic, é pic. é hora, é hora, é hora, é hora, é hora. ra-tim-bum…”) e minha mãe diz que eu sou igualzinha a ele, quando fica brava até me chama pelo nome de batismo do meu pai.
apesar de tudo isso, preciso confessar que tudo isso me frustra. penso que o dia que a gente nasce deveria ser o dia mais especial da nossa vida. eu que quase morri dentro da barriga da minha mãe, ou seja, um milagre em dose dupla. nascer é um milagre! sobreviver ao quase nascimento com morte – é um milagre maior ainda.
sempre ouvir minha mãe contar como foi tudo. desde o fato de ter engravidado sem planejamento, até o receio de entristecer meu pai com o resultado do ultrassom (é menina!). a compra do enxoval verde e amarelo. a escolha do nome de última hora (acredita que minha mãe pretendia me chamar de Sabrina?! // e eu chamei automaticamente todas as minhas bonecas de Sabrina). o fato da minha mãe não ter entrado em trabalho de parto, não sentir dores e nem nada e só ter ido ao hospital por desencargo de consciência (ou preocupação de mãe) e lá já estava eu, passada da hora quase morrendo e quase matando ela também.
houve também aquela cena dramática que o médico vai ao pai e diz: “senhor, faremos o possível para salvar as duas, mas talvez só dê pra salvar uma”, como se o meu pai tivesse condições de escolher entre a esposa e a filha. tem a parte trágica que depois virou cômica: eu já tinha feito fezes na dentro da barriga da minha mãe o que poderia causar uma infecção nela ou/e em mim caso eu ingerisse – o que mais tarde virou “a Fran já nasceu cagada!” e risos na mesa em almoços de domingo. e ah! e como se não bastasse, nasci sem um fio de cabelo (e até hoje tenho medo de ficar careca). e eu ainda deveria ficar muito animada com um primeiro dia super emocionante desses? ah desculpa, mas eu não consigo!
antes que me rotulem por ingrata. acredite, eu sempre agradeci muito a Deus pelo milagre da minha vida, mais, principalmente pelo milagre da minha mãe ter sobrevivido tudo antes, durante e depois do meu nascimento. mas não se trata só disso. às vezes, eu tenho a sensação estranha de que nem queria nascer. será que a gente sente isso de alguma forma? será que já nascemos tão fadados para um caminhar “estranho”? eu não sei! também não quero dramatizar (já dramatizando!). quanto mais os anos passam, mais eu quero esquecer, não quero comemorar, não quero ver pessoas, eu só quero ficar quietinha. (esse ano, eu só queria sumir por uma semana – um retiro ou um bangalô, seria perfeito! – a propósito: aceito de presente – faltam 27 dias)
“ninguém nasce sem dor” – escrito por um autor desconhecido da internet. e eu pergunto:
e depois? a gente consegue viver sem dor?
Por: Francielle Santos
(Foto: Halla)
aparentemente além do gosto pela escrita, a gente divide o aniversário.
Adorei o texto
– fred
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uau .. por essa eu não esperava!! // mas fiquei contente por saber 🙂
– Fran
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