
Organizado por: Ursula Doyle
Ano: 2009
Gênero: Romance e inclui bibliografias
Eu costumava olhar para todas aquelas moças idiotas que se casavam com o primeiro homem com quem achavam que poderiam viver. Penso que eu esperava pelo homem sem o qual não pudesse viver.
Nora Doyle – 1917 – 2007
, é claro que haveria de ter uma outra coletânea de cartas em “resposta” ao livro Cartas de Amor de Homens Notáveis. O par perfeito chamado, Cartas de Amor de Mulheres Notáveis, que contém as cartas de mulheres influentes como Ana Bolena, Emily Dickinson, Edith Wharton, Mary Wordsworth, Nell Gwyn, Claire Clairmont, Rainha Vitória, Imperatriz Josefina, Mary Wollstonecraft, Katherine Mansfield, entre outras.
Preciso dizer que a experiência de leitura entre os livros é completamente diferente. A expectativa que se deu na construção da obra das cartas deles e da busca por nós leitores (principalmente as leitoras) permeavam na sede de ler declarações que os nossos homens já não fazem há muito tempo. A queixa não advém da ausência de cartas escritas a punho e sim, da ausência de compartilhar em voz alta (ou escrita) os sentimentos mais profundos e densos, ainda que no novo modelo digital.
Perdi a razão do teu silêncio, e temi que uma carta fosse importuna. A tua foi um bálsamo para mim. Sê feliz, tão feliz quanto mereces ser; falo-te de todo o meu coração. Também me deste minha cota de felicidade, sentida intensamente; nada pode se igualar para mim ao valor de um sinal de tua lembrança.
trecho da carta da imperatriz Josefina para Napoleão Bonaparte – abril de 1810

(Foto: Reprodução / AH – Uol)
Semelhantemente, as mulheres deste livro também declararam com maestria e humildade os seus sentimentos, angustias, desejos e ambições em suas cartas. No entanto, percebemos em cada linha, o impacto que o amor tinha na vida delas, uma vez que os vossos destinos eram determinados pelo casamento, diferentemente do que o amor e a escolha de uma amada representava na vida dos homens.
Naquela época, bem sabemos que as mulheres viviam para se casar. Já o casamento para os homens, era como mais uma de suas conquistas, dentre tantas outras na sociedade. De tal forma, que a realidade delas diante da escolha de quem amavam, foi um fator determinante de quem elas se tornariam na sociedade em suas respectivas épocas e na história contata até hoje.
Assusta-me o que estamos fazendo. Tens certeza de me amar para sempre? Será que nunca nos arrependeremos? Tenho medo e tenho esperança.
trecho da carta de Lady Mary Pierrepont para Edward Wortley Montagu – 15 de agosto de 1712

(Foto: Reprodução / stmargarets)
Aceitar um pedido de casamento arranjado, optar por um casamento e não outro, fugir para se casar com quem a família não concordava, ficar no matrimônio apesar das mazelas, gerar filhos, perdê-los ainda no parto, quase morrer, entre tantas outras questões, tornam as cartas uma revelação de quem (nossas mulheres) éramos, de como vivíamos, de como sentíamos, antes de termos mais autonomia sobre as nossas próprias vidas.
Como parece inútil escrever quando se sabe como sentir – como é muito melhor estar sentada ao teu lado, falar contigo, ouvir as inflexões da tua voz; é tão difícil “negar a si mesmo, pegar a cruz e seguir” – dá-me forças, Susie, escreve-me palavras de esperança e amor e de corações que resistiram e grande foi para eles a recompensa do “nosso Pai que estás no céus”.
trecho da carta de Emily Dickinson para Susan Gilbert – 6 de fevereiro de 1852

Esse livro, mais do que cartas de amor, carrega a força, a coragem, a entrega, a doçura, o cuidado, a beleza da mulher além de suas aparências. Também, a genialidade com as palavras, a devoção em representar e/ou tratar sobre alguns assuntos de seus homens – figuras importantes para a sociedade. A destreza na tomada de decisão. A resignação diante de términos, de perdas, da solidão – a saudade, da condenação como aconteceu a Ana Bolena esposa do rei Henrique VIII, que foi condenada e executada, acusada de adultério e incesto em 1536.
… jamais um soberano teve esposa em todos os deveres e em toda a verdadeira afeição mais leal do que aquela que tiveste em Ana Bolena – nome e situação com que eu teria ficado voluntariamente satisfeita, se Deus e o prazer de Vossa Graça assim houvessem desejado. Nem em qualquer momento a ascensão social ou a condição de rainha me fizeram esquecer quem sou… Sendo eu de condição humilde, vós me escolhestes para ser vossa rainha e companheira, levando-me para muito além de minha situação árida e de meu desejo; se naquela ocasião me considerastes digna de tal honra, Vossa Bondosa Graça, não permitas que uma fantasia leviana ou um mau conselho de meus inimigos me roubem vossa nobre indulgência.
trechos da carta de Ana Bolena para o rei Henrique VIII – 6 de maio de 1536

(Foto: Reprodução / Wikipédia)
Enquanto, Cartas de Amor de Homens Notáveis inquieta o coração, faz frio na barriga e suspirar a ânsia de um dia ser amada de tal sorte por homens capazes de amar como aqueles, em Cartas de Amor de Mulheres Notáveis é um espelho, a busca incansável que nós mulheres temos em conquistar os nossos espaços e ainda assim, de sentirmos tudo visceralmente, de nos afogarmos no amor, de nos entregarmos de corpo e alma em tudo que colocamo-nos a disposição e, sem sombra de dúvida, da nossa capacidade de ir além das expectativas e esteriótipos empregados pela sociedade.
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Por: Francielle Santos
(Foto: Capa / Pinterest)