
como toda paulista raiz, eu tive por muito tempo aquele ranço das segundas-feiras. o começo da semana sempre representou trânsito, trens e ônibus lotados, gente mal humorada a cada dois passos e ranzinza até na hora do almoço nos restaurantes da Paulista, da Faria Lima… (incluindo eu – é claro!).
nas segundas-feiras o paulista vive uma urgência para acabar o dia freada pela lista infinita de pendências para a semana. o retorno para casa também era (é) um caos. era como se aos fins de semanas esquecêssemos desses “transtornos” e nas segundas-feiras, fossemos pegos de surpresa com esses detalhes bem desagradáveis.
contudo, como uma recém carioca que me percebi, passei a amar as segundas-feiras. eu não sabia dizer bem o que acontecia organicamente e/ou psicologicamente comigo. ou o que a cidade maravilhosa tinha, que mesmo sendo uma segunda-feira de manhã, eu era a pessoa mais bem humorada que nem em sonhos eu pensei que poderia ser.
eu tinha prazer em acordar, reconhecer o começo de mais uma semana, lembrar dos desafios e dá um jeito na minha ansiedade enquanto corria pela orla de Botafogo até o Flamengo; depois pegar uma bike Itáu e pedalar até Copacabana. e antes de entrar no trabalho, tirar as sandálias e caminhar um pouco na praia, sentir o frio da água salgada beira mar percorrendo dos meus pés corpo acima – me sentindo viva, contar alguns planos às ondas, encarar o horizonte, sentir Deus comigo e uma gratidão outrora desconhecida.

mesmo na hora do almoço, sensação térmica a beira de 40º (e acreditem, eu sou da estação de outono), eu tinha um prazer quase tolo de caminhar nas calçadas esburacas da Av. Atlântica com o meu salto. gostava de tomar um cappuccino em alguma cafeteria escondida nas travessas, ou um sorvete de casquinha, amava sentar naqueles bancos da orla pra conversar com Drummond, eu me sentia em casa.
talvez, fosse a energia e leveza que emana aquela cidade, apesar de todos os revezes além da bolha da zona sul. talvez, fosse eu presente no tempo presente e buscando tirar o melhor de cada segundo da minha vida. talvez, eu seja bem mais carioca do que paulista – mais verão do que outono. talvez, eu estivesse mesmo em casa. e estava, não estava Deus?
saudades das segundas-feiras felizes. saudade de casa. saudade de ser cappuccino dos pés a cabeça, e não só mais uma parede fria e cinza dessa cidade nublada.
tem dias que a saudade não me cabe e me arrebenta de dentro pra fora. (como hoje)
Por: Francielle Santos
(Foto: arquivo pessoal)
Ps.: está foto foi tirada em 6 de maio de 2019, segunda-feira, por uma senhora que passeava na orla de Copacabana e segundo ela, quando me viu ao lado da estátua de Carlos Drummond, teve a impressão de que eu falava com ele e tinha encontrado uma boa oportunidade para praticar o novo ofício – a fotografia. ela não resistiu e acabou falando comigo, mostrando a foto, trocamos o número do celular para que ela me enviasse. ela também fez perguntas e contou que já tinha trabalhado em diversos ramos, formada em jornalismo, entre outras especializações, agora aposentada, estava sempre em busca de outras coisas para praticar e a fotografia era o plano da vez. e antes de eu voltar para o expediente de uma segunda-feira cheia, ela me alertou: “planos, a gente tira da gaveta e faz voar“.
uma daquelas crônicas que me faz acreditar que há algo de Clarice em você.
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meu Deus, não sei como reagir a um comentário desses rs
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