
Faço queixas da tua incompreensão na sala do meu terapeuta.
Ele me aguarda com aquele olhar sereno e paciente por mais devaneios ou conclusões, enquanto eu escondo o meu olhar triste e decepcionado nas folhas da árvore em frente a janela grande de vidro do consultório e que alcança até o quarto andar do prédio.
Tento e quase sempre falho, ouvir daquele tronco um discurso mais conformado do que o meu. Contudo, o silêncio. Sempre o puto do silêncio entre mim, a árvore, o terapeuta e você.
Na verdade, eu não falo de você. Queixo-me de mil e três coisas mal resolvidas na minha vida e não terminadas. Queixo-me dos quase’s. Queixo-me de estar cansada de me queixar. Nunca digo o seu nome. Dr. Luiz, que continua me encarando, sabe disso. Ele sempre sabe de tanta coisa ao meu respeito antecipadamente, que me assusta, mas ele espera, sempre espera eu dizer primeiro.
E as vezes digo. Ou vomito. Depois volto a olhar as folhas da árvore. Encaro o chão. Desenho linhas imaginárias no tapete. Conto os enfeites que ele tem no aparador ao nosso lado. Belisco os meus dedos – para checar se estou mesmo ali, respirando. Alguns momentos eu perco o ar e choro. Sempre o miserável do choro entre mim, o tapete, o terapeuta e você.
E outra vez, o silêncio.
Esforço-me brutalmente para explicar o que é indizível. As palavras não suturam ferimentos com ossos expostos. Não tenho forças para colocar os meus ossos quebrados no lugar, às vezes, nem tenho estômago para olhar o estrago. Percebes? Eu tenho gritado dia e noite e ninguém têm escutado (nem mesmo você).
Por: Francielle Santos
(Foto: Reprodução / Michalina Woźniak)
Ah! O silêncio…estão nele respostas inesperadas, aquelas que somente ele pode revelar em…silêncio. E depois vem o tempo…sempre ele a nos encher de clichês que ele cria, e depois sem mais cai fora. E tem os ossos…são eles o armazém onde nossa memória se dispõe entre as prateleiras e então escolhemos as que nos convém ou as que se oferecem primeiro. E assim os olhares serão a cada momento estrelas nas janelas dos pensamentos. ( teu texto é maravilhoso, desculpe ter viajado tanto )
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eu viajei com o teu comentário, rs, sempre tão profundo e implacável ! // Grata por isso 🙂
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